08 maio 2006

ZÉ ABREU: BEM-ME-QUER(O) NUMA VIAGEM MAIS EM CONTA

Ainda agora principiaram as aulas e a senhora dona Lula espanhola já bem-se-quer em férias. Mas, se aquilo que descreve não foi um sonho que teve, lá aproveitou entretanto para ir a Espanha. O senhor azul, como não podia deixar de ser, aplaude, dá nota e agradece. Mais: pede um bacio, vá-se lá perceber porquê - deve ser um comentário de intelectuais, desses que me passam ao lado.

Fiel à intenção de aqui ir dando conta de uma cultura toda ela feita de gostos e interesses normais, leituras normais, músicas normais, filmes normais e viagens ao alcance de pessoas normais, venho então falar-vos do meu passeio a Vila Nova de Alhos-Brancos, que é um local em pleno Alentejo, aprazível, terra do meu tio Ernesto, que põe a casa à nossa disposição (cada vez, aliás, com menos disposição, à medida que as visitas se repetem...), o que aproveitamos, está claro, porque um passeio sempre é um passeio, e com habitação e comida à borla até sabe melhor...

Chegando a Vila Nova de Alhos-Brancos, pelo amor de Deus não deixem de se extasiar com a visível influência árabe, que se resume ao dono da padaria, o senhor Ahmed. Amigos, o senhor Ahmed tem um harém: ainda não decidi se o hei-de invejar, se apiedar-me. Uma coisa é certa: no meu caso, não servia. Não quero senão a minha querida esposa. (Mais iguais a ela davam certamente cabo de mim...)

A seguir, não deixe de ir visitar o castelo. É verdade: em Vila Nova existe um castelo. Mas o melhor é que o senhor Ahmed, que afirma que aquele castelo pertenceu aos seus antepassados, quer fazer lá um restaurante. E está a pensar substituir as portas velhíssimas, muito pesadas, de madeira carunchosa, por umas portas em vidro, dessas que abrem automaticamente e muito depressa. Quando voltar a Vila Nova talvez já tenhamos a possibilidade de almoçar no «Alhos-Brancos», que é como o restaurante se vai chamar.
Por enquanto, pode visitar o vetusto (hã? que tal?) castelo, mas tem de se pedir a chave à dona Gertrudes. A dona Gertrudes é surda. Portanto, façam favor de bater com uma colher num tacho que ela tem pendurados à porta de sua casa, a fazer de campainha. Esperam que ela vá à procura da chave. Demora um bocado e, às vezes, leva a chave errada, de modo que há que voltar atrás, o que é um óptimo passeio que devem aproveitar para respirar o ar puro.

Em Vila Nova de Alhos-Brancos não há água canalizada. Que há de mais típico do que irem ao poço ou ao chafariz? Mas não há água, atenção!, por motivos políticos: o Presidente da Junta gaba-se de ser o único político português que não tem promessas por cumprir. Ora ele nunca prometeu água ao povo. Quando lhe falam nisso, responde, sabiamente: «Água? Para quêi? Inda se fosse para se canalizar o vinho eram capazes de me agradeceri...»

Posto isto, quando lá vamos, ao fim de um tempo temos de regressar. Como é que sabemos quando é a altura? A minha tia começa a servir-nos peixe, e esse é o pretexto para a deixa do meu tio: «Ó Adozinda, pêxi outra veiz??? Nã sabes que o pêxi é como o hóspede? Ao tercêro dia aborrece...»
Aí, percebemos que estamos a mais, e só ficamos mais uma ou duas semanas.
Depois abalamos, com a mala do carro a abarrotar de azeite, batatas e um monte de repolhos que fariam a alegria e as delícias da senhora dona Lara Couve.
Não deixem de ir, que não se arrependerão.

7 comentários:

PLANETAZUL disse...

Obrigado Sindroma por me trazeres o Alentejo profundo em Maio...
11 em 11
Dois bacios

Lara Croft disse...

Caro Zé Abreu:
Não podia deixar de te mandar também um grande bacio, daqueles bem re-penicados... :)

Anónimo disse...

E vocês a dar-lhes com os penicos. Afinal, para que querem tanto disso?

Déjà Loin disse...

oh, oh, já fiquei cheia de vontade de lá ir... x)

Anónimo disse...

Ó meninos! Então não sabem que o ósculo italiano sofreu uma assimilação? Por favor, deixem-se de preconceitos e beijem com garra...

Ana C Marques disse...

Não sabia que o Sindroma tinha dois ósculos. Sempre pensei que usasse lentes de contacto.
Tou mesmo pitosga.

Anónimo disse...

hã?!!