30 novembro 2006

O Novo Professor (I)

O novo professor (I)

I

Não sei como aqui cheguei. Nem tão pouco sei onde estou. No nevoeiro da minha memória recordo a bela Helena, a dura luta que travei em Tróia, para conquistar o direito de poder olhar para Helena Recordo o agradável prazer das longas conversas com a minha amada Clitemnestra.
Nesta confusa comunhão de vida e morte que quererá de mim Zeus? Dar-me um novo exército? Para combater onde e quem? Como posso regressar à luta se sofri tamanho golpe por amar Helena.
Oh! mestre dos mestres dizei-me que terra piso. Eu embaixador de Zeus na terra, comandante do grande exército que invadiu Tróia, homem e senhor das guerras, pensador e interprete das vontades dos deuses pergunto-vos porquê eu, porque fui eu o escolhido para tão longínqua aventura? Quem ousou afastar-me daquele corpo desenhado pelo deus dos deuses, afastar-me da paixão, do amor do desejo de ter, de sentir, de acariciar, de beijar aquela que, por ter sido minha, numa noite, todos me odeiam.

II

Que roupa é esta que trago neste meu corpo? Que falar é este que conheço sem nunca o ter aprendido? O que querem de mim os deuses?

III

Abre-se a porta. Sentados nos sofás alguns corpos parecem pequenas estátuas. Não têm vida. Jazem no silêncio de quem reflecte sobre a vida nunca vivida naqueles corpos. Mexem-se porque não querem sentir a falta da vida sonhada, procurada na vida descoberta por outros corpos. No silêncio de cada corpo vive adormecido um sentimento ainda não descoberto. Talvez vivido sem a chama que faz brotar o calor ardente do vulcão por tantos anos adormecido. Naqueles corpos ainda estão por ouvir os gritos que surgem de um espaço tantas vezes por descobrir. Entro naquela sala. Alguns olhares de mera curiosidade. Um grupo aqui, outro ali. Vão olhando sem nada sentir. Sou mais um em silêncio. Sou o caçador em busca de mim próprio. Deambulo em pensamentos tão longínquos que me trazem longe do presente. Que perfume é este que me faz lembrar corpos no meu passado. Quem transporta, em seu corpo, tamanha prenda dos deuses?

IV

Foram muitas as vezes que senti, bem perto, o perfume com que Helena almiscarava o território reservado aos caçadores. Passava, olhando o nada, mas tudo observando.

V

Naquela sala havia algo diferente. Foi de repente que surgiram alguns corpos que marcavam a diferença. Corpos que mereciam ser contemplados, estudados na dimensão do universo. Mereciam ser acordados e conquistados.

VI

As conquistas, sempre nos levam, a saber escolher o melhor caminho para chegar lá, isso mesmo, lá onde está o desconhecido, o pote de ouro por tantos desejado. Ali mesmo onde se escreve o grito secreto da conquista. Foi isto que os deuses quiseram ao mandar-me conquistar num novo tempo, numa terra em ebulição. Descobri que nesta nova missão terei de ser o educador, aquele que deverá suportar silêncios, conquistar o pensamento de alguns, sentir o desprezo de vários, a inveja de tantos, mas também, a satisfação de ver surgir o futuro numa mão cheia daqueles que por ali vão passando.

VII
Aqui estou eu descobrindo que renasci PARA SER PROFESSOR

VIII

Estamos em pleno intervalo. Na Escola Secundária de Linda-a-Velha os caçadores sentaram-se nos locais por onde a caça sempre passa. Lado a lado, aqueles caçadores trocam olhares, sentem por perto aquilo que mais procuram mas que poucas vezes conseguem ter e muito menos saborear.

IX

Olhares de grande censura, de profunda iniquícia e de alguma zelotipia marcam a passagem de um corpo bem desenhado no feminino. O que fazer? Como chegar àquele jardim para tentar colher alguma flor?

X

O inesperado acontece. Dos seus dois metros de altura Argamemnon não viu uma casca de banana deixada no chão certamente por falta de funcionários para limpar com rigor e qualidade a sala dos professores. Escorregou. Caiu ficando inanimado.

XI

Todos se levantaram olhando surpresos e angustiados para aquele corpo de ex-general deitado inanimado no chão. Alguns gritaram por ajuda. Procuraram a caixa de primeiros socorros que não aparecia. Outros entre o denso fumo das várias marcas de cigarro nada descobriam. Gerou-se na ESLav UM SILÊNCIO DE PROFUNDO PÂNICO.

XII

Um estranho fumo atravessou aquela sala apenas habituado ao mau cheiro do tabaco. Todos se olhavam. Alguns apressaram-se a apagar o cigarro que estilosamente transportavam entre dedos amarelos. Quando desapareceu a neblina cancerígena todos olharam naquele corpo transformado em professor e logo na ESLav.

XII

A porta da sala abre-se. Compasso certo entra uma professora possuidora de um corpo bem desenhado. Bem equilibrado. Dela sai um perfume com efeitos mágicos. Curiosa aproxima-se para ver o que acontece.

XII

Deitado no solo todos viram que aquele novo professor, reduzido a uma nova dimensão e estatura abriu levemente os olhos sobre o efeito do perfume que acabara de chegar. Era um perfume de mulher. Talvez mesmo de uma super heroina. Com um leve movimento fixou o olhar naquela mulher. Abriu mais o olhos e num suspiro gritou com entusiasmo e muita convicção

- Elasticgirlr

XII

Foi tão forte emoção que voltou a desmair. Há mulheres que são assim pensaram logo os caçadores

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu avisei que este H.Mamão vos ia dar cultura pela medida grossa. Ainda agora o herói emigrou para o corpo de um professor da eslav, e já realizou a sua primeira heroicidade: caiu redondo no chão (se calhar, estava uma uva por ali). Uma proeza ao nível do Pochato no seu melhor...

Anónimo disse...

O tipo pirou! Amada Clitemnestra? A tipa e o amante matou-te mal regressate a Tróia!... Que má "viagem"!
Qual perfume qual quê, venderam-te foi produto "marado"...

Anónimo disse...

Que poço de cultura! Que estilo grandíloquo e refinado!Que pérolas de sabedoria! Então não é que tive de ir ao dicionário ver iniquícia e zelotipia?

Abelha Maia disse...

ah! pois e dp acusam me de ser lenta a perceber as faladuras!qd até a pp RAINHA tem k consultar o diccionário...