A ESLAV andava em polvorosa.
Quando aquilo começou, as pessoas não se aperceberam imediatamente.
Também é verdade que, no início, se tratava de coisas «explicáveis»: por exemplo, a substituitrix nunca mais fora vista na escola nem, segundo fontes fidedignas, em nenhuma das trezentas e duas escolas por onde já passara; mas constava que «andaria por aí». Por exemplo, o fantasmadaopera desaparecera do blogue abaixo e, algum tempo depois, a abelha maia sumia, também, do mesmo blogue abaixo. Só que havia desculpas, Ai, e tal, ando com muitos afazeres (explicava o fantasma, que nem sabia bem o que era um «afazer», a não ser na medida em que, com ele, nada se fazia, tudo ficava «a fazer»...), ou: Ai, e tal, estou sem internet (explicava a abelha)...
Quem começou a reparar nestes desaparecimentos foi a Madame que, como muito bem se sabe, tomava afincada e minuciosamente nota de tudo no seu implacável caderninho ou, como eu gosto de dizer, uma vez que sou um tipo culto, no seu «carnet».
Se uma pessoa (que não mencionaremos para não ferir susceptibilidades) chegava atrasada a uma reunião do, sei lá, por exemplo, Curso Profissional e, na reunião seguinte, teimava que não, a Madame abria o seu «carnet» e setenciava:
- Desculpa lá, Zezé Totó, mas na outra reunião tu chegaste às dezassete horas, trinta minutos e cinquenta e três segundos. Está aqui apontado, ora vê lá. E o sô planetazul está a faltar a esta reunião, deixa-me cá registar!
Quando alguém queria saber, deixa cá ver, por exemplo, quem entrara mais vezes (e, já agora, quem entrara menos vezes) em AAA, tinha uma solução eficaz: perguntar a Madame, que passava as páginas do seu «carnet» com um vagar irritante e, a seguir, informava, como quem emite a Palavra Sagrada:
- O Arminho Migalhões já entrou setenta vezes. O Zezé Totó entrou... uma!
Nenhuma deslocação de ar, nenhuma sujidade de uma sala, nenhum movimento suspeito, ou mesmo insuspeito, nenhum horário cumprido, ou comprido, ou incumprido, nenhuma utilização indevida dos computadores, nada, rigorosamente, escapava às malhas do sagrado «carnet» de Madame.
E, portanto, foi ela que, um belo dia, lançou, entre duas baforadas de fumo do seu cigarro mais longo do que os das pessoas comuns:
- Andam a desaparecer coisas. Da mesma maneira que certas coisas NÃO desaparecem, infelizmente, como o presépio que ainda lá está e estará!, outras há que têm sumido... Se não vejamos [e consultava o «carnet»]: há um projecto de cinema para alunos: ora nunca houve público, os alunos desaparecem todos misteriosamente a essa hora. Explicações? Não há. Mais: existia uma turma - da Bebé Moreia -, que está a desparecer aos poucos: eram cinco alunos, depois passaram a três e, finalmente, a dois que só pensam em anular a matrícula. É isto. Ando a reparar que a escola se tem tornado numa espécie de buraco fundo. Vão desaparecendo coisas de que nunca mais ninguém sabe nada...
3 comentários:
Já dizia o meu amigo Lavoisier:"nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Assim, tudo o que desaparece de algum lado é porque foi transferido/transformado para/em outro.
Parece-me elementar começar a investigação deste caso, não só pela detecção do que desapareceu, mas fundamentalmente pelo que há de novo ou pela verificação das mudanças ocorridas, mesmo que subtis.
Claro que uma análise mais profunda do "carnet" de Madame poderá fornecer mais pistas...
Grato por me retirarem deste torpor intelectual, aguardo ansiosamente pelo próximo desenvolvimento.
Elementar, meu care Sherlock ...
Finalmente luz ao fundo do túnel....na onda dos desaparecimentos, pode ser que desapareçam algumas múmias, pelo menos uma, já ia.....mas infelizmente há quem goste.....
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