28 novembro 2006

UM MISTÉRIO COMO NUNCA SE VIU NADA ASSIM: EPISÓDIO SEIS

Madame lamentava-se silenciosamente. Ninguém calculava que falta lhe fazia o seu carnet; olhava para os círculos de fumo que da sua boca saíam em intervalos regulares (um a cada 45 minutos, que era o tempo que durava uma AAA). Mas não estava sozinha: toda a escola andava em polvorosa. Saber que todos estavam empenhados na sua causa, reconfortava-a. Não havia lugar que não fosse remexido, pedra que não tenha sido levantada, cacifo que não tenha sido arrombado. Tudo porque a procura do carnet se tinha tornado no principal problema a resolver na escola e todos estavam envolvidos. Uns porque queriam provar a sua inocência, outros porque queriam a todo o custo poder ter, nem que fosse por breves minutos, o dito carnet na sua posse e quem sabe, poder espreitar...
Madame pensava se valia a pena manter o Sherlock na investigação; as teorias da lula espanhola não a convenciam. E além do mais, parecia-lhe que as preocupações do dito não iam além de descobrir porque é que as tesourinhas se tinham escapulido daquela mesa.

Éntretanto, Migalhões afadigava-se; ninguém o conseguia convencer de que o carnet não estava dentro da caixa negra que lhe tinham confiado naquele dia. O estatuto de presidente do Clube dava-lhe motivos de sobra para sacrificar um dia de trabalho em prol das diligências. Pertinazmente, montou arreiais no polivalente "se o encontrar, há-de ser a frente de todos". Primeiro foi o chefe Lukas, sem sucesso. Depois foi Zezé Totó que tentou substituí-lo "Tou a achar-te cansado, Migalhões, eu fico aqui um bocadinho enquanto vais beber um abatanado...". Não! Nem pensar! Não podia abandonar a caixa.
Exausto, cambaleante e esfomeado, Migalhões sucumbe à insistência de JP, que é o único que o consegue afastar do seu posto. JP refastela-se na cadeira, sacando do seu Aristo e de umas folhas A3. Para despistar, começa a traçar garatujas que ninguém entende; justificando-se com argumentos de peso, consegue convencer alguns de que sabe onde está o carnet e que aqueles traçados não são mais do que um mapa que lhe terá sido revelado em sonhos.

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