05 janeiro 2007

A AFRONTA DE MESTRE MARIUS

O Grupo de Intervenção sobre os Computadores (formado pelo Guerreiro, Dona Bolacha, Elasticada e, «last but not least», Blacknight, esse incontornável guru da escola) entrou na sala onde iriam ser instalados uns computadores que a escola, com grande zelo e esforço, ganhara numas rifas do Ministério da Educação.

Logo que pôs o pezinho no interior da sala, Guerreiro tropeçou num espantalho.

Parou, sem crer no que via. Balbuciou umas quantas incongruências que mal se percebiam sob o seu farfalhudo bigode. Tinha razão para tamanho espanto: é que havia ali ainda mais espantalhos, para além daquele que o fizera quase cair. Um deles, era o Sô António, que fazia de espantalho desde que não podia mexer-se «por causa de uma dor» que lhe dava «na lombada». Mas não só: existia mais uma vintena de bonecos de palha - e ainda pincéis finos, pincéis grossos, arcos e balões, medas de palha (atenção, eu escrevi «medas»!), um galo de Barcelos, muitos ovos, um pernil de frango, um senhor cobrador de fraque, uma máquina Perkins...! Em suma, compreendia-se que, em vez de proceder à limpeza que se lhe havia primeiramente pedido, depois ordenado, por fim exigido aos gritos, Mestre Marius, pelo contrário, se fora servindo daquela sala como armazém de arrumações.

Guerreiro perguntou, tremendo de indignação:
GUERREIRO - Ó Elasticada, então não falaste com o Marius???
ELASTICADA - Falei, falei, falei!
Guerreiro estava apoplético. A veia do pescoço inchava-se-lhe, muito grossa, muito azul. Tinha desejos de sangue na boca. O bigode eriçava-se-lhe perante a afronta.
GUERREIRO - Não pode ser!!! Que falta de respeito!!! E de decoro!!! Que topete!!! Eu parto isto tudo!!!
E começou, efectivamente, partindo para ali, a torto e a direito. Dona Bolacha procurava segurá-lo. Mas Guerreiro gritava cada vez mais, mais alto, mais longe, mais além.

Blacknight, sábio e apaziguador, achou que devia intervir:
BLACKNIGHT - Ó Guerreiro, calma! É preciso calma. E paz, o mundo precisa de calma e de paz! E de amor!
GUERREIRO - Eu dou-te a calma!!! Eu dou-lhe a calma, a ele!!! O Sacripanta! O Tordesilhas!!! O Flibusteiro!!! Vão ver o que lhe faço!!!
BLACKNIGHT - Olha, o Daniel Sampaio tem uma frase esplêndida, que eu gostava de partilhar contigo, queres ouvir? É assim: «Se houvesse mais paz no mundo, o mundo seria um lugar melhor...» Que achas?
GUERREIRO - Quero lá saber!!! Eu parto o Daniel Sampaio!!! Eu parto a paz!!! Eu parto o mundo!!! Eu parto tudo!!! Eu parto tudo!!!
BLACKNIGHT - Espera lá, ouve esta parábola. Quero que extraias dela uma lição de vida...
GUERREIRO - Eu parto a parábola!!!
BLACKNIGHT - Não, ouve. Uma vez, um passarinho caiu, do seu ninho, na boca do lobo. E disse assim o passarinho: «Piu, piu, ó senhor Lobo, por favor não me coma». Ora este lobo, que por acaso até era boa pessoa e, sobretudo, pessoa de muito bom gosto, respondeu-lhe carinhosamente assim: «Minhão, minhão, chlép, chlép, huuum, que delícia, foste o passarinho mais gostoso da minha vida... Vou ter saudades tuas, porque ainda sinto um pouco de fome...»
GUERREIRO (parando, surpreendido) - Que tem isso que ver com o resto???
BLACKNIGHT - Não sei muito bem. Mas é profundo, não é? O que interessa é que comuniquemos. Eu gostei de partilhar contigo esta parábola.
GUERREIRO - Eu parto a parábola!!! Eu parto o lobo!!! Tudo já daqui para baixo!!! Fora com este lixo todo!!! Já!!! Já!!!

E foi assim que, nesse dia, choveram, daquela janela para fora, espantalhos, pincéis, o galo, os ovos, alguns computadores novos...!

Quando soube, Mestre Marius mostrou-se ressentido.

2 comentários:

Lara Croft disse...

Gostei muito da participação do Capitão Haddock nesta história :)

Ana C Marques disse...

Pois eu, acho que nesta história só faltou a intervenção do Capitão Sparrow -)