05 fevereiro 2007

EM JEITO DE PARTICIPAÇÃO DISCIPLINAR

Uma das vantagens que as actividades de acompanhamento dos alunos foi, segundo o meu ponto de vista, possibilitar a alguns professores retomar o contacto com as turminhas do ensino básico, que já consideravam longe longe… Não me surpreende, por isso, ter vindo a levar umas palmaditas nas costas, de como quem diz, Ah, agora já vos compreendo mas não sei como é que aguentam.
Entenderão mais facilmente o que eu digo se estiverem a dar aula numa sala ao lado das nossas aulas - práticas, longas, barulhentas por natureza. Pela sua natureza também os miúdos são irrequietos, alguns naturalmente insolentes e mal-educados mas com isso posso eu bem. O que me custa mais é assistir a cenas como a de hoje, que vos vou contar por ser tão elucidativa do que acabo de dizer. Na verdade, nada do que se passa é tão grave assim; mas cansa, perturba o decorrer da aula e pior, repete-se, repete-se, repete-se…

Os 29 alunos entram na sala aos encontrões, é de tarde, acabaram de jogar à bola, vêem ensopados em suor; demoram tempo a acalmar. O Jójó, refastelado na cadeira, canta. Mando-o calar ao que ele responde “da-sssse”. Mando-o para a sala dos conflitos (que devia ser dos castigos), mas não está ninguém, pelo que lhe peço para aguardar um bocadinho à porta; rapidamente sou surpreendida por uma cantilena que fez a encarregada do pavilhão subir a escada; o Jójó, seriamente, responde-me “eu estava só a cantar a Grândola Vila Morena, acha mal?”. Mandei-o entrar e sentei-o na minha secretária, onde não fez mais nada até ao fim da aula, senão cantar e andar a trás de mim a perguntar o que podia usar para substituir o compasso.

-Stora posso ir fazer xixi? É só um bocadinho.
-Não podes estar sempre a pedir para saír…
-Mas eu faço sempre xixi a esta hora.

Três alunos levantam-se e sem perceber porquê, desatam a correr “atrás dum compasso”. De repente e enquanto eu ajudava alguns alunos que, no fundo da sala (18, que é uma sala grande) solicitavam a minha ajuda, sou surpreendida por gritos provocados por duas alunas que se envolveram num qualquer conflito e gritavam, apoiadas pelos colegas ao lado. Decidi que deviam abandonar a aula, porém a Jéjé disse, quando uma delas saia: “já vais levar nos cornos”, pelo que saiu da sala, igualmente.
Vi assim a turma ligeiramente reduzida, mas não foi por isso que consegui que a aula corresse normalmente. Prometo contar-vos mais. Este folhetim não se fica por aqui…

3 comentários:

Déjà Loin disse...

Estou cansada e sem paciência só de ouvir o relato. Fiquem sabendo que admiro muito os professores :p eu não sei se resistiria ao bom velho par de estalos.

Anónimo disse...

Ah, agora já vos compreendo mas não sei como é que aguentam.

Ana C Marques disse...

A pastilha, a chiclete e a trident.

-Jójó, não quero pastilhas na aula.
-Mas isto não é uma pastilha.
-Seja o que for, é uma chiclete, deita fora na mesma.
-É uma tridente!
-Ah! Já podias ter dito!...
-Porque a Tridente faz bem aos dentes. Não é dessas porcarias de chicletes.

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