17 março 2007

DOM ZÉ ABREU FALA DE UMA VIAGEM QUE IA FAZER E JÁ NÃO FARÁ, PORQUE UM TIPO TEM A SUA DIGNIDADE!

Na verdade, tive um convite de Dom Duarte para ir na sua comitiva numa viagem aos Açores. Aceitei prontamente: confesso que o que me entusiasmou mais, foi a ideia de passar à frente do senhor intelectual maminha na fila para o avião; mas outras razões me agradaram: no fundo, eu vi, nesse convite, um reconhecimento do meu estatuto. Um gesto humilde, da parte de um «talvez» «futuro» rei, coitado, de um «possível» rei - mas, a sê-lo, sabe-se lá quando...! -, para com um dos poucos reis reais do nosso país: o Rei das Bifanas!

Pensando ainda melhor, o único rei a sério ali, se eu fosse, seria eu próprio. E já começava a treinar o uso do «Nós» para me referir à minha pessoa, já me imaginava tomando o lugar principal no grupo, dando muitas ordens, reduzindo o próprio Dom Duarte a um simples membro da minha comitiva, deixando-o, se ele pedisse muito, levar a minha mala, tratando-o por «Duarte» ou por «pá». Ai, se o maminha me visse, em pleno aeroporto, passando-lhe tranquilamente à frente, fazendo este figurão...!

Entretanto, foi à minha rulote falar comigo, para preparar a viagem, um assessor de Dom Duarte. (As pessoas que tratam dos assuntos relativos às viagens do «possível» rei para os «Açores» são, como se está mesmo a ver, os «açores», mas há intelectuais que escrevem: «assessores»...). Mas o tal assessor, um homem franzino e feio, cheio de ramelas, disse-me que me convidavam na qualidade de «português genuíno», «puro luso», de «autêntico homem do povo». Para que se percebesse que o Dom Duarte seria um monarca popular, próximo da gente simples. Até me pedia que levasse um garrafão de tinto e umas bifanas, para realçar o meu ar. E fez esta comparação: «Porque o senhor é um português tão português, como o é o cavalo da mais pura raça lusa». Respondi-lhe, está claro, que fosse chamar cavalo ao seu patrão. Acompanhar aquela gente na qualidade de cavalo!? Eu??? O único rei português??? Já não vou!

1 comentário:

Anónimo disse...

Literatura de primeira.