Não pensem que o «fantasmadaopera», lá porque tem esse nome, é mesmo um fantasma fantasma. Já o viram? Trata-se de um ser demasiado carnal para poder ser espírito. Tanta carne, aliás, nem deixa espaço para espírito absolutamente nenhum.
E, no entanto, o seu nome não foi escolhido em vão. Chamam-no assim por causa, precisamente, da sua convivência com o mundo dos espíritos. Por causa do seu dom.
Ah, não sabiam que ele tinha um dom? Sim, não parece, mas tem um. Comunica com as almas do Além.
Executa até um número fabuloso, perfeitamente ao nível das habilidades cavalares do batalhão de GNR, e que funciona assim:
FANTASMADAOPERA - Estou a ouvir qualquer coisa, estou a ouvir qualquer coisa. É naquela zona. Alguém que quer comunicar com aquele senhor de casaco de bombazina e de barba de três dias. É acerca de... como? «Escada»?! Sim. O espírito fala-me em escadas. Faz alguma ideia daquilo a que ele se refere?
SENHOR BOMBAZINA - Nenhuma, nenhuma!
FANTASMADAOPERA - Ah, mas pense um bocadinho, que diacho! O senhor subiu hoje alguma escada? Desceu alguma escada?
SENHOR BOMBAZINA - Não.
FANTASMADAOPERA - Bem, se calhar não era «escada». E «banana»? Parece-me ouvi-lo a dizer «banana». O senhor gosta de bananas, não é verdade?
SENHOR BOMBAZINA - Não posso com bananas. Detesto bananas.
FANTASMADAOPERA - Exactamente! Isto não falha! Portanto, o senhor detesta bananas, era o que eu dizia...
SENHOR BOMBAZINA - Mas, afinal, quem é que está a tentar falar comigo? De escadas e de bananas? Tento comunicar com o mundo dos espíritos, e eles falam-me de escadas e de bananas? Para isso bastava-me manter uma conversa com o Pochato.
FANTASMADAOPERA - Quem está aqui é um tio-avô. Diga «olá» ao seu tio-avô.
SENHOR BOMBAZINA - Mas eu nunca tive tios-avós. Nunca.
FANTASMADAOPERA - Ah, sim, percebo agora melhor.O que ele me disse foi, precisamente: «Não sou o tio-avô dele, hein? Não se ponham agora a pensar que eu sou algum tio-avô»...
SENHOR BOMBAZINA - Mas afinal, quem é?
FANTASMADAOPERA - Bzzzz, brrrr, tch, tch... hum, neste momento a comunicação tornou-se difícil, julgo que... como...? zzzzzzz... está cansado? O espírito está cansado. Vai repousar. Mas já apanhei outro na linha.
SENHOR BOMBAZINA - Para mim???
FANTASMADAOPERA - Não, não. Eu sou realmente excepcional. Ele diz-me que... quer falar com... vejam como isto funciona... um senhor que possui uma mariconera... eu não sei nada, não vos vi entrar, isto é tudo espiritual, é um dom... sinto o espírito a apontar para o Pochato?
SENHOR BOMBAZINA - Isso seria difícil. O Pochato hoje não veio.
FANTASMADAOPERA (envergonhado) - Não? Curioso! Juraria que... bem, por hoje estou cansado. Se os espíritos se cansam, eu então... sobretudo desde que apanhei com a máquina, nunca mais fui o mesmo. Bem, então adeus. Não se esqueçam de deixar o dinheiro à saída.
E assim, o fantasmadaopera compensa o seu magro ordenado de professor. O número é um sucesso. Tem feito rir muita gente!
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