Sou o Padre Felisberto de Jesus.
Tornei-me conhecido, da noite para o dia, como treinador do Fátima Futebol Clube. Sim. A santa equipa que venceu (ou empatou, eu próprio ainda não entendi muito bem o milagre) o clube da Invicta.
Sempre fui um adepto ferrenho do futebol.
Comecei a minha humilde carreira treinando beatas. Elas queriam confessar-se - que é como quem diz, aproveitar o tempo de confessionário para dizer mal das outras - e rezar novenas, mas eu reunia-as no adro e punha-as mas é a jogar futebol; e se, ao princípio, as velhinhas protestavam, devo dizer-vos que, com o tempo, faziam uma figura muito melhor, não digo do que o Cristiano Ronaldo, mas sem dúvida do que o Pochato e os demais velhinhos que se juntam nas futeboladas das quartas, na eslav. Nunca uma das minhas velhinhas, mesmo jogando com véu, escorregou em bagos de uva (é só um exemplo que me ocorre...), nunca nenhuma bateu com as trombas na parede.
Atenção. Não estou aqui a dizer mal do Pochato. Não senhor, que é um santo homem. Um homem bíblico. Faz-me lembrar o Pai de todos nós, Adão, sobretudo agora que se passeia pela escola com uma pochete presa do cinto, a tapar as partes baixas, como se fosse uma folhinha de parra. Não venho aqui dizer mal de ninguém. Venho só falar das minhas tácticas.
A nossa vitória não se deveu unicamente ao apoio de Nossa Senhora. Mais do que com o milagre, contámos com o nosso trabalho! Iniciávamos os treinos rezando um terço. Depois, fazíamos uma peregrinaçãozinha. A seguir, a rapaziada ouvia a prelecção. Por fim, dávamos dois ou três chutos na bola, gritando «Foge, Satanás! Não me tentarás!»
Todos os métodos inovadores escandalizam.
Mas já estou a contar que me chamem para a selecção.
Pelo menos, não darei socos: darei a outra face; e porei o Quaresma a jogar do princípio ao fim, porque quem tem um nome desses, bem o merece.
Mantenham-se atentos ao Fátima. (Ando a pensar em organizar um Kit Sócio do Fátima, com descontos nos restaurantes ao longo das peregrinações, e nas velas para se fazerem as promessas...)
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