Miss Projecto andava na sua costumada ventania pela sala. Sentava-se numa mesa, pedindo contas a um. Noutra mesa, queixando-se a alguém. Desaparecia. Reaparecia. «Estou muito cansada disto! Esta escola dá-me cabo dos nervos!» E zum!, desaparecia. (90 % dos presentes na sala pensavam: «Dás cabo dos nervos à escola, isso sim!»)
Mas, no seu cruzar veloz de todos os cantos do espaço, Miss Projecto tinha um ponto de referência: o computador junto à esplanada. Não que parasse lá. Mas precisava de o sentir à mão. Teclava aqui, teclava ali, de passagem, num trânsito nervoso, vertiginoso.
Eis, porém, que Abelha Maia, ligeiramente distraída, percebeu que algo a incomodava. Era a música! Era a porcaria da música. Roufenha, brasileira, ainda por cima! Ainda se fosse o precioso Julio Iglesias! Agora aquele parvalhão do Chico Buarque! Levantou-se. Aquilo dos fios era confuso. Tão mau como nos filmes, quando se quer desarmadilhar uma bomba. Que fio corto? O azul? O amarelo, o amarelo! Não, o vermelho. Mas Abelha tinha de decidir, porque o brasileiro entrara no refrão. Rapidez. Traz! Desligou, da tomada, o cabo óbvio.
Ouviu um grito. «QUE É ISTO!? DESLIGARAM O COMPUTADOR?»
Era Miss Projecto.
Ao fundo, romanticamente, a voz de Chico Buarque da Holanda, roufenho, envolvia a triste cena.
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