16 fevereiro 2006

ACERCA DE UMA ENTREVISTA

Numa entrevista que, há algum tempo, concedeu à revista Pública, entre fotografias em que a vemos de braços cruzados, numa atitude de firmeza inamovível, ou entrefechando uma porta, como se se preparasse para entalar alguém, a ministra faz algumas afirmações que gostaríamos de reproduzir, procurando desvendar o que se oculta nas entrelinhas.

Para principiar, é-nos relatado esse momento terrível, verdadeiramente dramático, em que, inconsolável, a professora se despede de uma turma para se tornar ministra: a senhora acabara de comunicar «que fora convidada para integrar o elenco governativo».
A turma, subentende-se do texto, está desfeita, chorosa. O que nos parece perfeitamente entendível, quando auscultamos o pensamento de cada um desses alunos nesse momento: «O meu país nunca sobreviverá!»

Mostrando uma invulgar lucidez, a senhora esclarece, noutro ponto da entrevista:
«Acho que se justifica o desagrado dos professores com a ministra».
Se a própria o diz, nós, professores, até por respeito hierárquico, não poderíamos senão concordar. Aplaudimos esta ideia: não se pense, pois, que os professores contestam tudo o que a ministra diz!

Mas talvez a formação ideológica ajude a fazer luz sobre algumas atitudes suas. Talvez algo no seu passado anarco-sindicalista, por exemplo, nos permita interpretá-la e compreendê-la melhor. Quem sabe se pode iluminar-lhe o perfil aquela «história que se conta sobre o dia em que, com outros colegas, fez uma espera a um professor». Aliás, sem dúvida: detecta-se aqui uma profunda continuidade e uma grande coerência ideológicas. Não é a sua acção, ainda hoje, sobretudo hoje, uma «espera aos professores»?
Não vou prolongar esta análise. Acho que fiquei deprimido. Muito deprimido

1 comentário:

Anónimo disse...

Não teria piada inverter os papéis? E se os professores fizessem uma espera à ministra?!...