18 março 2006

A MÁQUINA DE CAFÉ

Na sala de professores habita uma máquina de café.
Lança copos de plástico branco que as pessoas, para irritarem Dolly, costumavam deitar fora num recipiente em que ela afixara «JÁ REPETI TREZENTAS E CINCO VEZES QUE AQUI SÓ SE DEITA PAPEL». O café não sabe bem. Às vezes não há café de todo. A máquina não aceita moedas de um euro. Acontece o monstro engolir moedas e não dar troco.
Porém, religiosamente, coitados, numa fé obcecada, os professores da minha escola, que não são capazes de resistir a uma boa bicha, formam-se, no intervalo comprido - que, aliás, é bem curto - diante da máquina como de um ícone, de um santuário.
Quereriam combatê-la, mas não conseguem vencer o seu estranho fascínio.
Gostariam de a calcar aos pés, mas estão hipnotizados.
No outro dia, Filó Memé preparava-se, em frente da máquina, para cumprir o seu vício. Enfiou a moeda. Ouviram-se ruídos feios. E bruscamente, a máquina apresentou, ao invés do copo devido, uma espécie de barquinho de plástico, um copo entalado, deformado, que ninguém dali conseguia arrancar.
Os viciados, os cafeínodependentes, queixavam-se já. Alguns, de olhos esbugalhados, raiados de vermelho, os cabelos desgrenhados, o sangue uivando-lhes pela cafeína do dia, ameaçavam Filó.
Pochato avançou, muito pronto, muito ágil e seguro de si, certo de resolver o assunto em dois segundos. «Deixa lá ver isso!»
Mas a máquina, furiosa, aspirou-o, transformando-o num copinho de plástico, com óculos e uma pochetezinha estampados.
Fantasmadaopera regougava para Filó, agressivo (está, pois, a voltar ao seu estado normal de bruto):
- Quem tem umas mãos como as tuas, Filó, não devia era tirá-las dos bolsos. Estragaste a máquina.
Filó voltou-se.
O casaco entreabrira-se para um emblema de super-heroína, no seu busto.
Fantasmadaopera fugiu, ganindo.
A terrível máquina fora vencida.
Uma outra super-heroína acabara de se revelar.
Procura-se-lhe um nome.
Aceitam-se sugestões pelo número que vai passar em rodapé. (Chamada de valor acrescentado, 1 euro/ seg.)

Rodapé: 960 05 05 01

4 comentários:

PLANETAZUL disse...

Antes de dar nome à super-heroína, gostava de saber como descobriste que os profs da tua escola não resistem a uma boa bicha no intervalo comprido...
Será que no curto já resistem?
A resistência depende da qualidade da bicha ou do comprimento do intervalo?

Anónimo disse...

Até que enfim, Síndroma, ressuscitaste!

Anónimo disse...

Mãozinhas de fada bruta, será que serve?...

Anónimo disse...

Estou a achar que já somos demasiado super-heróis aos encontrões na sala dos professores. E alguns com cada nome mais ridículo... pft!