18 janeiro 2007

COMO OS PROFESSORES DEVIAM GERIR O SEU TEMPO DE FORMA A EVITAR PROBLEMAS DOMÉSTICOS

Encontrei-me ontem com o meu amigo Antunes, a quem o pessoal, na pândega, chama o «miopinho» em virtude de ser um míope que não tem mais do que um metro e trinta de altura. Pois o miopinho vinha a chocar com as cadeiras, pedindo-lhes, depois, muitas desculpas. Reparei que não trazia os seus óculos de lentes tipo fundo de garrafa. Então, ó miopinho, e tal e coisa, pá, que é feito de ti, tens visto o Simões, e o Teixeira ainda é vivo ou quê, palavra puxa palavra, lá acabei por lhe perguntar se fizera uma operação aos olhos (o que eu já tinha topado que não devia certamente ter acontecido, a não ser que a operação consistisse em transplantarem-lhe uns olhos de toupeira, porque o gajo vinha a ver pior que nunca). Ora o miopinho anda com problemas em casa. Deitou fora os óculos, porque pensa que a mulher lhe pôs escutas nos aros. E então porquê? Vão-se rir: a mulher do miopinho julga que o gajo tem um caso. Eu acho graça, porque para o miopinho, com aquela figura, ter um caso, tinha de ser com certeza com uma miopona, como, aliás, a mulher dele, de facto, é: aquilo foi verem-se - desfocados, tá claro - e apaixonarem-se!
Eu próprio confesso (e olhem que faço isto pela primeira vez na vida), já apanhei em tempos um susto dos grandes, quando a minha mulher descobriu que eu guardava uns aerogramas da minha madrinha de guerra na gaveta da secretária. Julgava eu que aquilo era um sítio seguro, porque é onde guardo os talões do totobola e do totoloto antigos, é uma pancada que eu tenho, guardar aquilo, os papéis todos amarelecidos e atados com um elástico a desfazer-se. Bem, então um dia ela achou que devia fazer uma limpeza geral e deu com os ditos aerogramas, ía caíndo o carmo e a trindade e mais uma vez me censurei por não ter ficado por lá, até podía ter casado com aquela madrinha, casávamos por procuração, mas depois vim a casa no natal e deitei tudo a perder.
Mas o miopinho tava fulo, porque o homem é professor, o que é mais um defeito a acrescentar aos óculos e à baixa estatura, e a única coisa que se passa é que anda a trabalhar como um doido lá na escola e não tem tempo para mais nada.
Eu bem aconselho estes grandes trabalhadores: - Façam como eu! Vão à escola só nos dias em que o almoço da cantina vale a pena. A seguir, sentem-se num dos sofás, com um copinho na mão. Conversem. Uma vez por outra, vão dar uma aula, que aproveitam para fazer umas chamadas pelo telemóvel, preencher o IRS e assim. Às horas de reuniões, direcções de turma e afins, vão-se mas é embora. Isto é o que eu faço.
Mas os professores como o miopinho, não. Levam tudo muito a sério. Escrevem sumários. Planificam. Reúnem. Recebem pais. Eu cá, uma mãe ou outra, não digo que não seja capaz de receber, afirmo-o com todo o respeito, agora pais...!
A conversa estava interessante, mas fazia-se tarde. Despedimo-nos com esta última deixa do miopinho: - Eu ando lixado! Já disse à minha Maria: um caso, eu!? Um caso!? O único caso na minha vida é nem ter tempo para casos. Só se for com a ministra: dedico-lhe todo o meu tempo, o melhor e o pior do meu tempo. A ela e só a ela!!!

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