Black Knight retirou-se da investigação, por iniciativa própria, pronunciando estas palavras que a História registará: «Estou farto que os gajos do blogue andem aí a espreitar todos os meus passos, eles que vão mas é gozar com ...[termo eliminado pela Comissão de Censura de blogues do ME]».
Visto isto, encarregaram do caso o célebre detective Arminho Migalhões.
Ora A. Migalhões é conhecido pela sua capacidade quase sobre-humana de extrair confissões aos culpados. A sua técnica, aliás, consiste tão-só nisto (é simples, mas era preciso alguém ter-se lembrado dela): chega atrasadíssimo ao local onde se encontra o prisioneiro de quem deveria conseguir a confissão. Só isso. Esperam-no, por exemplo, às quinze horas. Passado o primeiro quarto de hora, o preso ainda está com a cabeça fresca, cheia de mentiras e de estratagemas, histórias falsas cujos pormenores batem certo, enfim, tudo isso...; ao fim de meia hora, a sua convicção começa a vacilar; ao fim de uma hora, já mistura tudo, já não sabe o que quer contar, já mal distingue a realidade da ficção, já está cheio de tiques na boca e nos olhos; ao fim de duas ou três horas, quando, por fim, aparece o detective Arminho, sempre com o seu ar atarefadíssimo, repetindo «Eh, pá, desculpem lá, desculpem lá...», o homem - ou a mulher, em resumo: o culpado - cai-lhe nos braços, com os nervos em franja, chorando imenso e gritando (suponhamos): «Confesso! Conto tudo! Fui eu, fui eu que mandei matar o meu marido! Mas a minha culpa maior não foi essa, foi ter contratado aquelas cavalgaduras para executar o trabalho, que só fizeram disparates. Disso é que não me perdoo, confesso, confesso, buaaaaaah!!!»
Temos, portanto, que o caso do «carnet» vai sofrer uma grande reviravolta. Arminho está apostado em arrancar a confissão ao culpado. A escola sabe do seu plano. Está nervosa. Ressente-se. As pessoas já não se olham nos olhos.
A própria Madame anda nervosa. Terá ela alguma coisa que ver com o misterioso desaparecimento do seu próprio «carnet»? Era o cúmulo. Mas, segundo sugere um tal Sherlock, os nervos de Madame são originados... pela ausência prolongada de tabaco. Minto! São provocados, ao que parece, pelo facto de poucos parecerem ter reparado que ela tenha deixado de fumar. (É, repito, o que insinua Sherlock-víbora). Madame tenta que reparem, é verdade, a propósito e a despropósito.
UMA COLEGA - Que frio faz hoje, ein?
MADAME - É porque as janelas estão abertas... para ver se o fumo se esfuma...
OUTRA COLEGA - Estes alunos estão cada vez pior. Acabo de pôr um na rua.
MADAME - Má solução. Eles chegam cá fora e desatam imediatamente a fumar.
MAIS UMA COLEGA - Preciso de falar com a elasticada, mas vejo-a sempre a cem à hora. Se a agarro...!
MADAME - ... Cigarro? Queres um cigarro? Não te posso ajudar, porque, olha, eu cá...!
AINDA UMA COLEGA - Estou farta das medidas do ministério. Já não tenho saco.
MADAME - Tabaco!? Já não tens tabaco? Mas não te posso ajudar, porque eu já... eu já...
Madame até pensou em mudar as lantejoulas que traz nas calças, formando as palavras «Keep hands off!», para «I'm free! I don't smoke!»
Arminho vai levar tudo isto em consideração. Anda a trabalhar no caso. Podemos perfeitamente vê-lo a trabalhar no caso. Ou melhor, quase nunca o vemos, sinal de que anda a cumprir escrupulosamente o seu método: chega atrasado, chega atrasado!
3 comentários:
E eu que pensei que era um defeito!Afinal é uma técnica premeditada e sofisticada.
Será que os não fumadores têm pontos extra para ingresso na careira de Professor Titular?
Quem conta um ponto acrescenta um conto
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