Começa a fazer-se finalmente alguma luz sobre esta obscura história dos pontos necessários para se ganhar a titularidade.
É ainda uma luz fraca, porque o Ministério se preocupa com os professores e não quer que o excesso de iluminação lhes fira os olhos ou provoque dor de cabeça.
Chegou, entretanto, documentação que explicita, preto no branco, quais os números circenses, as graças e as acrobacias que fornecem pontos.
Vamos transcrever um anexo dessa documentação, em que se refere uma actividade particularmente pontuável. Esse anexo surge, até, acompanhado de um excerto em que se reproduz um diálogo de um grupo de docentes acerca do assunto.
«Às actividades referidas, acrescente-se a formação em Linguagem Obscena dos Alunos, que, completada, pode dar 30 pontos.
. Como é evidente, os professores devem ter consciência de tudo quanto os alunos pensam acerca deles, e de tudo quanto os alunos dizem sobre o seu desempenho; para isso, é importante que um professor saiba traduzir palavrões, como em: «O Professor de Matemática? Eh, pá, esse [piiiii] tem a mania que é [piiiii] e que faz [piiiii]! valia mais que fosse [piiiii] [1]».
[1] As palavras que põem em causa o decoro da escola, são tornadas inaudíveis por uma apitadela oportuna, graças à colaboração dos professores de Educação Física. Bem-hajam!
. Esta formação, ministrada pela Universidade Independente, consta de quatro módulos, como se segue:
MÓDULO 1:
Palavrões relacionados com cocó, chichi e todo o tipo de excreções do nosso corpo
MÓDULO 2:
Palavrões relacionados com parentescos, que permitam insultar não propriamente a pessoa visada, mas o seu pai ou a sua mãe, ou a sua irmã e outros parentes, associando-os a profissões marginalizadas pela sociedade (marginalizadas, APESAR de serem profissões que não descontam para o IRS, facto que a sociedade em geral até aprecia e valoriza...)
MÓDULO 3:
Palavrões relacionados com a anatomia em geral, podendo envolver gestos vários, que habilitam a fazê-los quando-se-conduz-um-automóvel-e-os-outros-condutores-nos-chateiam (matéria que, aliás, devia ser ensinada nas aulas de Código, mas não é).
Na última parte deste módulo, ensina-se também a desenhar partes do corpo (só esquematicamente; não é preciso pormenor).
MÓDULO 4:
Palavrões relacionados em particular com sexo, envolvendo nomes de práticas das mais usuais às mais acrobáticas.
DIÁLOGO EXPLICATIVO:
MADÔ - ... E parece que então, o aluno mandou o professor para... percebem? Eu nem repito, mas vocês percebem, não percebem...?
TETÉ PRANTOS [com um sorriso de perfeito entendimento] - Sim, sim. Para a outra banda, não é?
MADÔ - Para a outra banda? Que outra banda???
TETÉ PRANTOS - Não me digas que tu é que não percebes. Que inocente! Olha. Para a outra banda, pá, para «a-outra-banda»!
MADÔ - Qual! Não. Pior. Muito pior.
TETÉ PRANTOS [chocada] - Pior??? Pior do que mandar uma pessoa para Cacilhas???
SERROTA [acalmando Madô, que pensa que estão a gozar com ela] - Não a leves a mal. Ela ainda só vai no primeiro módulo, e a palavra em que tu estás a pensar já é do terceiro módulo. Olha, aí vem o precisamente o formador, talvez ele possa explicar à nossa Teté...
FORMADOR - Boas-tardes, então [piiiii] ou quê? Que tal a [piiiii] da [piiiii]? Têm ido [piiiii] para [piiiii] ou quê?
TETÉ PRANTOS [para a Serrota] - Mas o formador é estrangeiro???
SERROTA - Isto é tudo matéria do quarto módulo, querida, não te preocupes!
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