01 junho 2007

REPÓRTER ESTRÁBICO PASSOU A BARREIRA

A fila é imensa.
As pessoas atropelam-se.
Uma senhora monumentalmente gorda pisa-me os calos todos, que são muitos.
Há quem me grite aos ouvidos, mas nem sequer para falar comigo: tentam falar através de mim, como se eu não existisse.
O pior são os porteiros. Onde irão desencantar estes porteiros, que parecem macacos? E onde é que homens tão broncos, de tão mau aspecto e com tantos pêlos aprendem a ser tão selectivos?
Ouve-se a alguém, lá para a frente:
«Eles não estão a deixar passar ninguém!!!»
Não é verdade. Alguns eleitos passam. Que critérios serão levados em conta é que é o grande mistério.
Eu quero passar. Mas não estou acompanhado, será que deveria estar? Não devo ter muitos pontos, teria de tê-los? Não estou penteado, não tenho cartão, não valho nada, terei alguma hipótese de passar?
Um dos porteiros debruça-se sobre mim.
«Quem és tu?!» - pergunta ele.
Parece que me vai morder.
«Sou amigo! Sou um amigo!»
Alguém me reconheceu. Deixam-me passar. E, exactamente como no anúncio da televisão, os eleitos estão, no minuto em que conseguem transpor a barreira, perante a visão mirífica do automóvel de Teté Itunes, onde a própria se instala para fumar durante os intervalos. Ela que, furiosa com a medida anti-tabagista, dissera com toda a firmeza:
«Nunca mais me verão na sala de professores durante um intervalo! Vou para o meu carro! E NO MEU CARRO, SÓ ENTRA QUEM EU QUISER!!!»
Vejo cabeças felizes no interior do automóvel. Há música, alegria, fumo.

Entretanto, aos infelizes que não são chamados ao carro-maravilha, aos que não são capazes de fintar os mostrengos, só restam duas hipóteses. Ou o suicídio, ou engrossar o banquinho da paragem do autocarro.
É onde uma velhinha trôpega, de voz tremente, pernas tortas, varizes, pergunta a uma colega triste que fuma sem parar:
«Boa tarde, é aqui que passa o 27?»
Responde-lhe a macambúnzia colega:
«Por aqui, que eu desse conta, passaram mas foi 27 Marlboro!!!»

1 comentário:

Anónimo disse...

Tens lume?