12 janeiro 2006

O CARIZ INTERNACIONAL DO POVO PORTUGUÊS


Então vejamos:
  • Quando um português tem um grande problema pela frente costuma dizer que se vê GREGO;
  • Se uma coisa é extremamente difícil de compreender, ele afirma que isso é CHINÊS;
  • Quem trabalha de manhã à noite é um MOURO de trabalho;
  • Uma invenção moderna e mais ou menos inútil é uma AMERICANICE;
  • Quem se gaba em excesso é amigo de ESPANHOLADAS;
  • Quem vive com luxo e ostentação vive à grande e à FRANCESA;
  • Se faz algo para causar boa impressâo aos outros è só para INGLÊS ver;

Só os amigos de PENICHE...que não são grande coisa..., são PORTUGUESES.

PENSAMENTOS PROFUNDOS...

  • Se és um jovem entre os 16 e os 18 anos...então tens 17.
  • Se a montanha vem a tí...corre porque é um desmoronamento.
  • Não existem opiniões estúpidas...mas sim estúpidos que opinam.
  • Antes era indeciso...agora já não sei!
  • Já te disse 100 milhões de vezes que não sou exagerado!

Pensamento do dia:

  • Se te disserem que o teu trabalho não é o de um profissional, lembra-lhe: amadores construiram a Arca de Noé (penso que o próprio Noé também...) e profissionais o Titanic.

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 6º EPISÓDIO

Como uma telenovela a sério, esta blogonovela deixa ao guionista uma série de frentes possíveis. Diante de tantas frentes, prefiro voltar atrás. É que no «Deus nos Valha», Lar para Professores Reformados em Stress, algo não cheira bem. Para além do facto de o «stress» provocar flatulência, aquela casa tem qualquer coisa de suspeito. Voltemos lá.
No momento em que aterramos, o Chefe Lucas está completamente desesperado. Meio-mouco da orelha direita, por causa da Manuela Saraiva que lhe conta a vida aos berros, e tentando livrar-se da Guilhermina, que quer por força que ele faça de Nossa Senhora no presépio vivo - o qual, no entanto, já parece tão morto como esse outro que apodrece na nossa cantina; basta dizer que no presépio do Lar, o senhor que faz de S. José, por exemplo, parece estar francamente pouco vivo, em decomposição até, e há uns bons cinco minutos que o não vemos respirar... - o Chefe Lucas, coitado, só consegue pensar na estranha visita que ontem lhes tinha feito o Cara Danjo.
Cara Danjo era o único que o poderia ajudar. Era a sua ponte para o mundo exterior: e ele tinha de escapar dali, para salvar a escola de um plano de Madame, que concebera uma máquina para transformar todos os professores em réplicas exactas de si: imagine-se, o Garcia, a Judite Simão, o Valdemar, todos entrando por um lado da máquina, e todos saindo depois, por outro lado, como plantiêzinhos: Garcia Plantier, Judite Simão-Plantier, Valdemar Plantier...!
Não. O chefe teria de se opor com todas as suas forças a essa dominação.
Quando se livrou das outras duas colegas de Lar, subiu ao seu quarto. Tinha tentado passar, ontem, uma mensagem ao Cara Danjo. Mas ter-lhe-ia passado o papel correcto? Ou, no meio do nervosismo, teria havido algum engano?
Vasculhou na sua pasta: encontrou um relambório intitulado AAA, muito maltratado pela Elastigirl; uma folha de sumário da Teresa Santos, que começava assim: «Não compareceram alunos...» mas que, como entretanto lhe tivessem aparecido alguns, ficara finalmente da seguinte forma: «Não compareceram alunos durante a maior parte do tempo, salvo nos últimos minutos, em que compareceram alguns dos alunos que não tinham comparecido». E, por fim, uma folha de agenda, em que rabiscara: «Contaca com a Octopeia. Ela dirá o que fazer para me tirarem daqui!» Raios! Aquele é que era o papel que o Cara Danjo devia ter levado. O pedido de que se recorresse à Octopeia. Agora sabia o que Cara Danjo levara por engano: o talão com a conta da limpeza a seco de seis casacos de bombazine bége.

Entretanto, na sala de professores, Octopeia, o oráculo da escola, assistia, divertida, à conversa que alguns alunos mantinham, à porta, com a Directora de Turma.
Octopeia era um ser estranho, mitológico, com oito pernas (daí o nome) e quatro cabeças. O seu nome próprio era Elisa-Paula-Vera-Assunção. A sua intuição sempre se mostrara infalível. As suas profecias eram famosas. Perguntava-se-lhe, por exemplo:
- O que devo fazer?
E a resposta construía-se, cabeça a cabeça:
Elisa- Vai...
Paula- ... passear...
Vera- ... e fecha a porta...
Assunção - ... ao sair...
Ou, então, alguém perguntava:
- Quem sou eu, quem sou realmente eu, diz-me, por favor...!
E a Octopeia:
Assunção - És...
Vera- ... o Garcia.
Paula- Paga...
Elisa- ... à saída...

O Chefe Lucas, naquele deprimente lugar, pensou: «Tenho ainda uma última solução. Vou seduzir a enfermeira. Sou bom nisso de seduzir. Peço-lhe para me deixar usar o seu computador. Envio uma mensagem para o mundo...»
Nem de propósito, lá estava a enfermeira a olhar para ele, com um olhar de carneiro mal morto.
O chefe aproximou-se.
Sentou-se doce e meigamente ao lado dela.
Colocou a mão sobre a mão da mulher. Ela fez um trejeito coquéte.
Já ansioso, pensando na sua libertação próxima, o chefe segredou-lhe:
- Deixa-me ir ao teu site.
Ao que ela respondeu, indignada: «Porcalhão, grande porco, abusam logo!» -, antes de espetar um sonoro bofetão no seu surpreendidíssimo rosto...
(CONTINUA)

ESPÍRITO NATALÍCIO

1 - Já devem ter reparado (e se não repararam andam muito distraídos) que estamos no dia 12 de Janeiro de 2006.
2 – Também já devem ter notado que o dia em que se comemorou a chegada dos nossos amigos Gaspar, Baltazar e Melchior ao pé do Menino-nas-Palhas-Deitado-nas-Palhas-Estendido já passou há 6 (seis) dias atrás.

Não obstante estes factos incontestáveis, a nossa escola continua (e porque não, realmente?) a ostentar uma bela árvore Natalício-Ecológica feita com garrafas de água de plástico com listas vermelhas e verdes.
Mas, meus amigos, muito melhor do que isto é o belo presépio que se pode encontrar na cantina. Nunca repararam? Convido-vos a um olhar mais atento sobre o dito. Este presépio deve encontrar-se na cantina para aí desde o tempo, sei lá, do terramoto de 1755. Aliás, só pode, porque o estado de destruição do dito nos indica que foi um dos sobreviventes daquela catástrofe. Já não me lembro bem de todas as personagens presentes na cena, mas, se não me engano, lá podemos encontrar (entre outros elementos) alguns insectos vivos, e outros já falecidos, teias de aranha, bastantes ácaros e um resto da figura que devia ser S. José, mas que se encontra actualmente decapitado. Valha-nos Deus! (Hoje estou muito religiosa, não sei se já repararam). Para quando a remoção daquela coisa para a reciclagem?

A propósito do relambório que diz respeito às Actividades de Acompanhamento dos Alunos, ditas AAA

Uma das notícias mais fresquinhas apresentadas nas últimas reuniões de departamento tratou-se deste relambório, através do qual nos foi permitido saber:
que existe um livro de ponto de AAA;
que há pessoas que cruzam os dados em vários sentidos e em sentido algum;
que existem diversas referências em código que fariam José Rodrigues dos Santos repensar a sua mais recente obra e o próprio chefe Lucas preferir escrever à máquina.
Este documento fez-nos ainda repensar algumas estratégias... e pensar sobre outras questões inerentes:
quanto tempo demorou a cruzar os dados?
quantos alunos ficaram mais felizes com ele?
No início, acreditamos que estávamos na presença de um documento extraído do dossier de actividades do departamento de matemática, mas faltava-lhe um modelo acrílico...
Ainda num primeiro momento, foram aventadas algumas hipóteses quanto às origens da designação AAA atendendo ao sucesso do blogue:
- AAA minha machadinha?
- Associação dos Amigos do Abel?
- Assembleia de 2 Adelaides +1?
- 3 pilhas de 1,5v?
- Apoiantes e Admiradores do Anonymus?
Ou muito justamente e com lógica, alguém diria,
- Apoiantes dos Alunos Aflitos?
- Ajuntamento de Abéculas Amedrontadas?
- Ah, Ah, Ah!, digo eu…

A KOLUNA DE D.J. CARA DANJO: A JUVENTUDE TEM DE SE POLITIZAR

komo todos çábein eu kurto bué a mnha profe de portuges ela é k ás vezes não paresse kurtirme mas atenssão eu diçe paresse e diçe bein pq no fundo ela çabe k eu çô o novo saramago i çó m deu um 3 para eu não m invaidesser. mas ás vezes a mulhér tein senas bué dastranhas meu. por izemplo agora dis k os jóveins devião pulitizarsse pra alargar os orizontes. ora eu não keria nada alargar os meus orizontes até pq esta sena do macdonalde i dos amburgas i das kókakolas i iço tudo já m alargárão mto i eu perssisava de istreitar 1 koxe os meus orizontes. çó k ela acrechentou bein s calhar a pulitika portugeza não vos alarga s calhar até istreita e aí eu diçe logo boa atão açim talvês çeija bom dedikarme á pulitika e continuar com os amburgas a ver s mesmo açim imagrêsso. akilo d k çe fala agora bué é as persidenssiais. iá. o meu cota vai vutar cavaco imbora diga eu çó não çei pq é k o gaijo anda çempre a repetir k é porfeçor iço é k ainda estraga tudo e le vai fazer perder votos. o meu pai axa k mesmo açim com 1 primâiromenistro como o cavaco tamos çafos pq o mén até ker k portugal çeija maior deve tar a pençar invadir espanha e é baril. a minha mãi é mais suares e curte akela idea dos cartazes k é «çempre persente nos mumentos difisseis». o meu cota fartasse de guzar e dis obrigados têve çempre a kriálos não avia de tar persente. o alegre é fiche. a mnha profe de portuges dis k ele é 1 ómein de kultura i k é çein dúvidas o milhor dos noços puetas mais frakitos mas não çei s çerá 1 bom persidente pq nos debates fika çempre 1 bocado árrasca. tb temos o jerónimo mas a eçe faltalhe a vós kuando vai a falar imbora iço não faça grande difrenssa pq agente já çabe o k o mén vai dezer. resta o lôssã. iá. êçe é çuperkurtido é baril não é lá mto jóvein deve andar plus kuarentas ô sinkuentas mas o k importa é k é çempre purrâiro ver 1 kota com ideas de puto meu. o gaijo ker tudo o k agente ker mén. com êçe a persidente inda vô eu mandar aki na iskola. digão lá çe não gustávão.

11 janeiro 2006

J.P COELHO, «O» MOURINHO, ETC.

CAPÍTULO II
OS VERMELHOS ANOS (AH!)

A minha juventude ficou marcada por três acontecimentos maiores: o meu ingresso no benfica e ter conhecido o Lucas. Dos três, os dois mais importantes foi ter entrado para o Benfica. Falemos, pois, disso.
Quando conheci o Lucas, era este um pequeno agricultor que produzia um vinho único. Fiquemo-nos por este adjectivo para não ferir susceptibilidades. Ainda hoje, aliás, conservo, como prova de estima, a garrafa que ele então me ofereceu. E como o estimo muito, tenciono continuar a conservá-la. Para todo o sempre. Religiosamente.
O Lucas e eu éramos dois verdadeiros aventureiros, dois grandes malucos. Ai como recordo, agora, aquelas viagens que fazíamos à boleia, de mochila às costas, infatigáveis, duarante dias e dias, pela sua quintarola fora. As viagens eram demoradas - não pela extensão do terreno, que era a de um T-zero, mas porque não havia quem passasse para nos dar boleia, de modo que dávamos cinco ou seis passos e depois sentávamo-nos a petiscar de um farnel, a seguir andávamos mais um pouco e logo após tínhamos de dormir a sesta. Que saudades. Foram as minhas viagens mais selvagens!
Foi numa delas que o Lucas me confessou o seu sonho: mandar. «Mandar o quê? A quem? Ou em quê? Ou em quem?», perguntei. «Mandar», insistiu ele que, obviamente, ainda não pensara nos pormenores.
Propus-lhe que reuníssemos os nossos sonhos, e foi assim que partimos ambos à conquista da escola de Linda-a-velha. Aí chegados, eu desatei a ser professor e o Lucas desatou a mandar. Basicamente, nenhum dos dois fazia nada. Estávamos realizados.

Ainda me lembro do dia em que apareceu, no gabinete do Lucas, um certo sujeito de que, infelizmente, terei ainda de vos falar em próximos capítulos. Eu estava de costas, não o vi logo. Ouvi o Lucas dizer-lhe: «Tenha paciência, bom homem, mas hoje já dei...» Voltei-me: diante de nós estava um tipo com um nariz tão descomunal que só podia ser um complexo de superioridade, e com muito mau aspecto. Estendeu-me gentilmente a mão, e eu pus-lhe uma moeda na palma.
- Perdão, não estou aqui a pedir. Venho apresentar-me. Sou o novo professor de filosofia... -, disse ele, com um ar profundamente indignado mas, em todo o caso, não me devolvendo a moeda.
Na altura, não sabia que aquele indivíduo seria o meu inimigo figadal - o Sindroma, cujo nome não consigo pronunciar sem ranger os dentes.

O tempo passava. E Lucas, entretanto, transformara - como já foi dito noutro lugar pela Mulher Elástico - o seu outrora pacífico gabinete num terrível e ousado laboratório científico. Punha aquele semáforo vermelho à entrada, dizia, cinicamente, «Estamos em reunião», os funcionários passavam por ali em bicos dos pés, não se fazia ruído, falava-se em surdina... mas todos sabíamos que, não olhando a meios, o chefe Lucas se dedicava a perigosíssimas experiências de sono, reagindo muito mal a qualquer ruído que o despertasse.
Um dia, desrespeitei o semáforo. Andava roído de curiosidade. Funcionárias tentavam travar-me, pessoas levavam a mão à cabeça, «Pelo amor de Deus, não entre...!», mas nada me deteve. E de repente, no instante em que punha um pé no interior do antro, um ressonar inumano me transfigurou. O meu rosto contorceu-se, entortou-se. Os botões da camisa e das calças soltavam-se todos, disparando em várias direcções. Fiquei branco como cera. Tentei fugir, mas, cá fora, todos fugiam de mim. «Que horror, um fantasma...!», gritava a Dona Noémia. Nascia, assim, podemos dizer que de uma trágica experiência científica... o FANTASMADAOPERA...!!!

10 janeiro 2006

UM DIA (IN)DIFERENTE

Abel, no seu posto de segurança à entrada dos balneários, olhava fixamente o infinito. Olhava mas não via nada, absorto que estava à procura de respostas. Nem viu um cliente que entrou sem bilhete. Seguiu-se uma outra com ar aflito. Não deu por nada.
Não bastava andarem a dizer que a sua pochete não era a única, que afinal havia outra; agora falatava-lhe a companhia sempiterna do JP.
Indiferente, ao seu lado, Guerra, o felizardo, coçava a cabeça enquanto discutia as mais recentes aquisições do benfica com o Nelson, o carreto.
-Deixa lá isso, homem! Ele amanhã tá de volta! - Grita-lhe exuberantemente Inês PiPimentel, como lhe chamava o Alex.
Abel acorda do estado letárgico. Um penteado em repucho tinha-o arrancado do profundo meditar e torna pública a sua dúvida: -Que terá ido o JP fazer ao Porto?.
Ao certo, ninguém sabia.
Lá no fundo, ali ao lado, a outra Inês, com Alegria, pensava: pode ser que por lá fique...
Dado o alarme, e a um estalar de dedos da Madá, reune-se num piscar d'olhos como é seu hábito, o DETA* (não, não é um braço da ETA, embora não lhe faltem motivos para fazer explodir a escola) .
Talvez por solidariedade com o Abel talvez congratulando-se (ainda não se sabe bem), analisaram o sucesso e o insucesso da presença e da ausência do JP, enquanto elemento fundamental e de charneira no ensino da geometria na escola, no concelho de Oeiras, no país e no mundo.
Finda que foi a reunião, a dúvida mantê-se, tendo mesmo ficado em acta:
Onde pára o JP? Porque terá ele ido ao norte?

*Departamento de Expressão Técnica e Artística

SEJA BEM VINDA ABELHA MAIA


Votos de uma boa participação no Blog e isto´não é por estar com medo das ferroadas e outras ...adas...
Especialmente para tí (e pra o fi), cá vai esta:

Moises disse: A Lei é TUDO
Jesus disse: O Amor é TUDO
Marx disse: O Capital é TUDO
Freud disse: O Sexo é TUDO

E veio Einstein e disse: TUDO é Relativo...
E agora em que é que ficamos?
O que é que é TUDO afinal?

Até à proxima, se não for antes...

TB NÃO SEI POR BONECOS...

ISTO É UMA EXCITAÇÃO TOTAL, SÓ ME FALTA APRENDER A POR BONECOS!

alerta

resolvi, por aselhice, para os mais lentos e com maiores dificuldades na aquisição de novos conteúdos , escrever a mesma coisa duas (2) vezes pelo menos até ser feita a avaliação nos próximos CT!bem pensado, não?!!HELLO!!!

finalmente um buraco ...na rede!

daqui fala a MELOSA! FINALMENTE CONSEGUI ENCONTRAR UM BURACO NA REDE PARA ENTRAR!PASSEI UMA ETERNIDADE QUAL MOSCA VAREJEIRA às marradas no vidro a tentar entrar, mas finalmente uma alma caridosa abriu-me a janela, portanto quem me andou a dar alfinetadas prepare-se para agora levar algumas ferroadas, picadas, aguilhoadas, bicadas e outras coisas terminadas em adas.

finalmente um buraco ...na rede!

daqui fala a MELOSA! FINALMENTE CONSEGUI ENCONTRAR UM BURACO NA REDE PARA ENTRAR!PASSEI UMA ETERNIDADE QUAL MOSCA VAREJEIRA às marradas no vidro a tentar entrar, mas finalmente uma alma caridosa abriu-me a janela, portanto quem me andou a dar alfinetadas prepare-se para agora levar algumas ferroadas, picadas, aguilhoadas, bicadas e outras coisas terminadas em adas.

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA - 5º EPISÓDIO

MiMika transpirava e suspirava de alívio enquanto abria aporta do cacifo no Pavilhão C.
–Da-se!- BaM! Faz a mochila arremessada bruscamente lá para dentro. BaDaBaM! faz a porta a fechar-se.
– Da-se! Tou farta disto! Bora ao bar.
Kikas encolhia os ombros. Encostadinhas, dirigem-se ao polivalente.
-O meu pai vai-me obrigar a vir às aulas de apoio.
–Que cena, meu! Tou mesmo tramado com isto. Que seca, meu.
Amoroso Querido, rapaz sensato, sabe que as dificuldades no inglês só podem ser ultrapassadas com aquele apoio. Mas no momento precisava do apoio das amigas.
-Se fossemos mais lá na sala, podia ser que ela nem desse por mim…
-Podes crer meu, ó Sónia é um pão com chouriço quentinho. Aquela prof dá enjoo.
MiMika não conseguia esconder os sentimentos. As amigas puseram-lhe o nome por ser uma rapariga transparente e com um formato que se adaptava a qualquer dossier.
-E se a gente falasse com a DT? Vamos ver se nos conseguem arranjar outro prof.
Situam-se estrategicamente à entrada da sala de professores, pão com chouriço na mão.
-Stora! -Toc.Toc.
-Cambada de surdos.
-Stora! Pode ver se lá tá dentro a nossa DT? A professora de Geometria?
-Quem é?
-É assim… baixinha… axo que é João…
-João Paulo? João Plantier?
Gelaram.
-João João… Corte de Graça?
-Isso! Tá aí?
-Com licença… os meninos não deviam estar aqui… estou sempre a dizer o mesmo…
-Oi, professor Garcia! Tudo bem?
-Vá lá, vá lá, deixem passar…
-Atão o que é que querem? – Aproxima-se murmurando João Corte de Graça, pãozinho de leite na mão. – Despachem-se que eu não tenho o dia todo!
-É que… Diz tu…
-Não dá pra substituir a prof de apoio? Ouvimos dizer que os professores substituem tudo e mais alguma coisa e quase já nem dão aulas… Não dá para arranjar outro? Podia até ser o professor Garcia, se ele estivesse disponível…
-Oh meninos! Vê-se mesmo que não têm nada que fazer! Vão mas é estudar, que amanhã têm teste. Sabem ao menos o que é um plano de perfil?!

(CONTINUA)

09 janeiro 2006

BREVES

SOCIEDADE: Célebre «Gang» da Eslav assenta, após violentas discussões, num nome. Atendendo ao ar de balão dos seus elementos, e em homenagem aos Sopranos, passaremos a ter, entre nós, Os Soprados. Junto à entrada para a casa de banho, na sala dos professores.

CULTURA: A Bloguedições vai publicar, da autoria do nosso querido colega Abel, um maravilhoso livro de memórias, intitulado: As Minhas Memórias em Post-its - são mais de quinhentos e tal post-its com lembranças para cada um dos seus passos...

A FECHAR: Saúda-se o regresso ao Blogue da Lara Croft, chegada de mais uma das suas aventuras. Por outro lado, pergunta-se: a Abelha Maia continua a zumbir e a esvoaçar do lado de fora da vidraça? Apre! Será assim tão difícil entrar, melosa?

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 4º EPISÓDIO

Cara Danjo dirigiu-se para a escola e passou o portão. Cumprimentou o senhor que estava sentado na portaria. Nem água vai. O homem continuava a mirar o infinito com um ar enigmático. Cara Danjo distraíu-se por momentos da sua nova paixão e relembrou algo que tinha aprendido em História sobre uma estátua com quatro patas e que já não tinha nariz. Parece que tinha sido o Obélix a parti-lo. Já não se lembrava muito bem. Rapidamente a sua nova obsessão lhe voltou ao pensamento. A princesa! Onde estaria ela? Para onde teria ido? Precisava de por os seus contactos a funcionar rapidamente. Tinha que a encontrar. Entrou no polivalente e olhou em volta ansiosamente: uma fila interminável na cantina, uns miúdos pequenitos a jogar matrecos, bolas de pingue-pongue a voar pelos ares, um grupo de alunos a desenhar cartazes numa mesa... Cartazes! Era isso! Lembrou-se da frase enigmática que tinha recebido na mesagem de texto: “Representa pelos seus traços nos planos de projecção, um plano de perfil...”. Tornou-se óbvia a mensagem de repente. Aquele professor URBANOC não falhava! Correu para a papelaria: mais uma fila. Lá dentro estava uma senhora que vociferava qualquer coisa que ele não percebeu sobre um prazo de 48 horas que tinha que ser cumprido, falava de muito trabalho em pouco tempo e coisas assim. Que stress! Lá chegou a sua vez: comprou uma cartolina e uns marcadores, dirigiu-se à biblioteca, sentou-se numa mesa e escreveu: “ISTO É UM PLANO: AJUDEM O CARA DANJO A ENCONTRAR A PRINSSEZA COM O PERFIL + LINDO DA XKOLA. TEM ROPAS CULURIDAS E VAI AO JEMADOVO. OFERESSESSE RECOMPENSSAS. CULOCA NA CAIXA ANEXA INFORMASSÕES E DEICHA O TEU CONTAQUETO.” Correu para o pavilhão D direito e retirou sorreteiramente uma caixa tipo urna que lá estava com umas cenas para pôr perguntas sobre a SIDA ou lá o que era. Aquilo já não devia ser preciso. Foi colar o seu cartaz num placard do polivalente, e pôs a caixa por baixo. Nisto olhou para o relógio: bolas, já estava atrasado para a aula de Filosofia! Ia levar bronca do profe, sempre a dizer que ele não estudava nada e que tinha que aprender a escrever, primeiro do que tudo, e assim. Que cena, meu!

08 janeiro 2006

JOÃO PAULO COELHO, «O» MOURINHO DA EDUCAÇÃO: UMA AUTOBIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

Tinha proposto ao meu editor um título mais apropriado a esta autobiografia, o qual seria: JP Coelho, «o» Mourinho que o Mourinho Gostaria de Ter Sido.
Por razões que não são para aqui chamadas, consenti em que ficasse como está: um título que deve ser lido ironicamente, como é evidente, porque, por muitas voltas que se lhe dê, eu não sou nem quero ser o Mourinho da Educação - um homem que treinou o... blaaaargh... Futebol Clube do Porto -, o Mourinho é que, pelo contrário, almeja ser o JP Coelho do futebol.
Quero desde já deixar registado que, se vierem a fazer um filme baseado nesta autobiografia, George Clooney deverá interpretar o meu papel. Aliás, já tive ocasião de abordar o próprio e ele, assim que percebeu que não se tratava de um assalto, achou muita piada à ideia: tive de me vir embora porque porque não consegui que o homem parasse de rir...

CAPÍTULO UM: OS VERDES ANOS («VERDES», SALVO SEJA!)

Principiei a falar, muito cedo: ainda nem nove horas da manhã seriam quando meu pai me ouviu a primeira palavrinha. Tinha eu para aí uns seis anitos, e o bondoso progenitor pegou em mim pelo bigode, que era também já precoce, e correu até à sala, onde se encontrava a mãe recebendo umas visitas.
- Querida, querida! O Dentolas [era assim que me tratavam os meus papás] disse a primeira palavra. Disse «Papá»!
Pediram-me que repetisse. A mãe escutou atentamente.
- Olha que o bruto do teu filho não disse «papá». O que ele disse foi «papa». Já quer comer outra vez! Livra! Mais vale sustentar um burro a pão de ló...
Proverbial ignorância de adulto. O que eu realmente quisera dizer fora «Papa», como em «Sua Eminência». Ser Papa foi o meu primeiro sonho de grandeza, a minha ambição primordial.
Mas com o tempo, percebi que um Papa faz muito pouca coisa e passa demasiado tempo sentado. Só que nem tudo era bom na sua função: teria também de usar saias. De modo que fui mudando de ideias - resolvi tornar-me professor: assim, segundo o meu entendimento, que é o da Sra. Ministra da Educação, como professor também teria de fazer pouca coisa, também passaria o tempo sentado - e ninguém me obrigaria a usar saia. Melhor, pois, do que ser Papa. Com essa opção principiou o meu glorioso destino.

Quando me encontrava com os meus amigos, que felizmente mantenho, havia sempre discussões por causa das brincadeiras. Eu já queria brincar aos professores. «E como é isso?», perguntava-me o Augustinho. «Bem», explicava eu, «sentas-te». «E depois?», insistia o Augustinho. «Depois», esclarecia eu, «enquanto os que fazem de alunos brincam, como se estivessem no recreio, eu, o professor... continuo sentado!»
O Augustinho, muito activo, não gostava da ideia. Contrapunha logo com a sua brincadeira das touradas, que já era uma mania.
«Vamos a uma pega, Dentolas? Vá lá, tu rabejas.»
«Eu???»
«Não queres ser o rabejador? Então, fazes de boi...»
Eu detestava fazer de boi. Portanto, mudava logo a direcção da brincadeira.
«Vamos jogar mas é aos índios e aos cóbois...»
E dizia de lá o Nelsinho, que já topara o meu desagrado pelas boisices:
«E tu eras o grande chefe índio Boi Sentado...»
Já desesperado, eu ainda tentava:
«Nada de bois, pá, nada de bois. Vamos brincar aos homens do espaço...»
«Sim», lembrava-se o Abelinho, que usava sempre uma mochila muito pequenina, onde nem lhe cabiam os livros. «Tu eras um extraterrestre meio-bovino.»
Eu ameaçava, então, que já não queria brincar com eles, que me ia dali embora.
E um:
«Eh, pá, não BOIcotes. Ah! Ah! Ah!»
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
OUTRO - Pronto, pá, tens razão, é chato. Chega de BOIcas. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu ) - Ah! Ah! Ah!
AINDA UM OUTRO - Não te zangues. Não tens nada ar bovino. És até bem BOInito. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
MAIS UM - És BOI, desculpa, bué da BOInito... Ah! Ah! Ah!
Se hoje revelo estas partes mais tristes, é para que os meus leitores percebam como é que o meu carácter teve de se moldar na adversidade, contra a incompreensão, a estupidez e a patetice dos outros. Muitas lutas tive de travar até me tornar no professor que hoje sou. Sentado como um Papa. Não fazendo rigorosamente nada - e sem saias!

Nos próximos capítulos, saiba como me transformei no terrível Fantasmadaopera

07 janeiro 2006


Dossier encontrado na pasta de Paxecu pelas senhoras da limpeza no dia a seguinte à barafunda do Congresso.

(Meu caro leitor se foi com o rato carregar na maozinha para as "perguntas e respostas" é possivel que estejam ainda pior que as galinhas...)

«WHO'S WHO» DO SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS: UM PEQUENO GUIA


Há uma nota do Ministério da Educação, apensa ao documento de que apresentamos, em pré-publicação, alguns excertos. Eis a nota, que talvez lance alguma luz sobre uma certa estranheza, quase surrelista, que o texto possa revelar: «Não é conveniente encomendar-se este tipo de trabalho a pessoas que sofram de dislexia. As razões são óbvias. Estou chateada. Ass: ilegível»

Passemos ao precioso «Who's Who»:

Dona Lurdes Rodrigues - Conhecida como grande teórica da Educação em Portugal, com um pensamento consistente, profundamente influenciado, desde cedo, pelo Dr. Sylvester Stallone (de quem recuperou, por exemplo, a magnífica fórmula: P/P, ou seja, P sobre P, quer dizer: Porrada sobre os Professores) é a verdadeira cabeça das porcarias, perdão, perdão, das portarias - e circulares, e tudo e tudo... - que trucidam, ai, perdão, que procedem à revolução de mer... ai, ai, ai... de mérito, é isso, à meritória revolução do sistema de ensino, revolução que visa afundar, não, não, desculpem, estou nervoso, fundar, fundar é que é, fundar uma nova... uma nova... hum... coisa. Que calor! Meu Deus, quando prometi aprontar este guiazito não pensei que a coisa fosse tão complicada para aquilo que me vão pagar.

Dr. Dino Sauro (Sindicato Penproof) - Estudiosos têm vindo a defender a tese de que aquando da extinção dos dinossauros, alguns ovos teriam escapado, protegidos no microssistema educativo português, e desses ovos viriam a surgir alguns indivíduos totalmente incapazes de se adaptarem, desfasados da realidade, míopes, vegetais, perdão, vegetarianos, hã, o quê? Meu Deus, deixem-me refazer tudo, não é nada disto: estudiosos têm vindo a defender a tese de que [um borrão de café torna, infelizmente, completamente ilegível o prosseguimento da nova versão].

Dr. Frei Luís de Sousa (Sindicato Singlup) - De onde vem a Singlup? Para onde vai? O que pretende? O que diz? O que faz? O que é ou quem é a Singlup? E como ao Romeiro, ouve-se responder a uma voz, muito ao longe: Ninguéééém! Boa! Acho que ainda não marrei, isto é, errei, arre! Continuando: a Singlup não existe, só a Ministra é que não percebe. Mau! Quer dizer: a Ministra percebe até bem de mais. Mau. Recebe, assim é que está certo, a Ministra recebe-os porque é, no fundo, boa pessoa e... e... caramba, isto está mesmo a correr mal.

Dr. Paulo Corte (sindicato Fnac) - Iam à greve mas não foram. Contestam sem contestar. Discordam na concordância. Ou concordam na discordância? Estão mas não estão. Põem mas não põem. Não dispõem nada mas estão na disposição de tudo. Indispõem. Confuso!? E depois, eu é que sou disléxico.

Dr. Víctor Hugo Cardinalli (Pré-Ordem dos Professores) - O melhor, para evitar mais precalços, é limitar-me a copiar para aqui a letra do Hino da Pré-Ordem dos Professores:

Cobras, um queijo amestrado e um paio,
Tudo cabe neste circo do amor.
Bruxas, palhaços, o eterno Sampaio:
Junta-te a nós. Há lá nada melhor...!

(Refrão: pum, pum, pum, pum...)

Dr.-mas-Dr.-a-sério-nada-de-confusões Waldemar Chegapralá (Sindicato dos Professores Licenciados Atendendo a que os Não-licenciados não são Professores e Talvez nem Sejam Gente) - Conhecido pela sua política de depilação, desculpem, prestidigitação, ai, digitalização, ai, dignificação da classe dormente, ai, e empregado, não, empenhado no apartheid, não, no apartidarismo, eu... eu... enfim, não sei...
McDonald's - Por muitos sindicatos e mistérios, digo, ministérios, o verdadeiro gago, não, gaio, não, guia da juventude portuguesa, é o senhor McDonald da cadeia McDonald's, que tudo tem feito para que os meninos cresçam em todas as direcções e sentidos, não andem armados, isto é, nunca usem garfos nem facas nem saibam estar sentados à mesa...

O GRANDE CONGRESSO - 3. O CONGRESSO

(cont.) 9. O dia amanhecera cinzento e fresco, uma chuva miúda caía insessantemente desde a noite e ameaçava manter-se, tornando escorregadios os paralelepípedos da rua que dava acesso à entrada do Palácio de Meio Cristal, agora com o novo nome de Pavilhão Rota Mosa. O grupúsculo já nosso conhecido já alcançara o grandioso hall de entrada, onde, todos os participantes se identificavam, recebiam a documentação e se preparavam para os grandes momentos que se avizinhavam. Cumpridas as formalidades, ANA PENTECOSTES, passeando o olhar pelo extenso hall vislumbra, a curta distância, uma figura atarracada, de cabelo todo branco e sobrancelhas pretas, revestida por um fato cinzento, camisa branca e gravata de nó pequeno; num ápice, ANA aborda a personagem "Prof. GUSTAV!! Prof GUSTAV!! Que alegria imensa encontrá-lo aqui...Meus Deus....há quanto tempo..."ANOSKA...mas...és tu??? nem acredito...oh! ANOSKA ..." Tratava-se do Prof Dr. GUSTAV ASNOV, eminente catedrático da Universidade Nova de Trancoso... continua ANA: "ah..Prof ...que saudades daqueles tempos...lembra-se?? Aquelas depuraçõezinhas dos anos 40 e 50...e os campitos de trabalho..??" "Sim Sim...mas...isso já é passado, minha cara...a propósito não digas muito alto a frase Meu Deus...lembra-te que somos laicos, agnósticos, republicanos e socialistas reais e o nosso povo pode não gostar de ouvir..."- "Ah.. o Nosso Povo... o Nosso Povo....estou trémula de emoção, Prof." tremia, de facto a ANOSKA durante o breve encontro. Um pouco ao lado, era TERESA PRANTOS que revia o famoso Dr. BURROSLAV TOMISK... "Pois, Dr. soube há pouco que tinha aceite um convite para reger uma cadeira na Universidade Velha de Vinhais...deve ser um grande desafio..." "Oh Sim...é mesmo....lecciono a cadeira de Burrologia III, mas tenho 2 assistentes...sabe...TERESA..são mais de 200 alunos nas minhas aulas...".LURDES ORVALHADA mantinha interessante cavaqueira com a distinta Profª Dra. ALIMÁRIA DAS TRIPASCORAÇÃO, fundadora do Centro de PsicoBurrologia do Alandroal..."Sim, ORVALHADA, temos um protocolo com Vinhais...todas as 3 semanas enviamos e recemos burros...tem sido muito profícua esta troca de experiências..." "Imagino, Dra. Imagino...lá na minha escola não há protocolo que consiga mandar os burros de lá para fora ...hi hi hi..."replica LURDES. Também ANABOLA MAOÍSTA trocava impressões com a célebre Dra LISETE TOMA LACOICES, directora da Escola Superior de PsicoPedagogia Suíno Cavalar de Alte..."Ah quando me lembro daqueles anos heróicos de 75, Dra....aquelas colagens de cartazes pela madrugada, as pinturas nas paredes, os enxovalhos ao Copcon e ao MFA e aquela inesquecível marcha triunfante para Caxias quando libertámos o camarada Arnaldo...éramos prái uns 5 ou 6...mas que escarcéu...e depois fomos comemorar para a casa da camarada TONHA PRO LETÁRIA na Av dos EU América....naquele apartamento com 12 assoalhadas...estava livre pois os papás tinham ido de fim de semana para o seu monte alentejano em Vila Viçosa , lembra-se Dra??... "Oh se me lembro...eu encabeçava a trupe que libertou o camarada Arnaldo...". PAXÊKU, como um pobre enjeitado, percorre todo o hall do palácio...não encontrara ninguém conhecido, ainda...Soa, então, uma voz nos altifalantes do salão "Senhoras e senhores é favor ocuparem os vossos lugares no anfiteatro pois os trabalhos vão iniciar-se.."
10. Eram já 11.30 h da manhã; vários oradores tinham usado da palavra em intervenções mais ou menos aplaudidas...depois do coffee-break das 11 horas os trabalhos iam recomeçar;o orador seguinte era GUSTAV ASNOV..."Meus senhores, mesa do congresso, excelentíssimos presentes e ausentes as minhas saudações...Começo por uma ligeira introdução histórica ao tema A importância do Urro e as suas consequências psíquicas no acordar das Galinhas, tema que me é particularmente caro... Remonto-me aos anos 50 e 60 para vos relatar alguns casos por mim testemunhados na antiga e saudosa URSS, naquele tempo..." A exposição foi interrompida por uma voz grave, num berro bem audível, vindo das últimas filas da assistência..." Não contes mais, bandido...já todos sabemos o que fizeste mais os teus amigos na Mongólia...com a vossa colectivização sedentarizaram todos os nómadas que lá viviam...acabaram com eles...os pobres bem resistiram mas, no fim mataram todo o seu gado e suicidavam-se às centenas...ASSASSINO!!" " é FALSO..." riposta ASNOV.. "O gado é que se suicidou...não tive a culpa..." "É uma campanha infame contra o desenvolvimento da parapsicologia na antiga URSS..." grita histérica ANA PENTECOSTES "Reaccionários, reaccionários..." "Qual reaccionários, qual caraças ...vocês não gostam da verdade...embusteiros...encapotados...aldrabões..."insiste a voz grave ...Um imenso burburinho alastra pelo anfiteatro, ameaçando o normal decorrer dos trabalhos...Mas já BURROLAV TOMISK, abandonando o seu lugar, aborda o palanque e , retirando com um gesto brusco o microfone das mãos de ASNOV grita com voz rouca "Senhores isto é um ultraje...estamos perante alguns provocadores que boicotam o nosso trabalho...estão de certo a soldo de Washington ou de Pequim...isto é intolerável..." Era demais...ANABOLA MAOÍSTA e a Dda. LISETE TOMA LACOICES, de mão dada, correm em desepero para o palanque e, antes dum pio, abordam com vigor o pescoço de BURROSLAV...este cai e estrebucha no chão...O dr. MANUEL DAME CONSELHOS, um dos organizadores do evento, apela pelo micro.."Então. senhores, apelo à calma...eu aconselho..." "Vai dar conselhos à tua mãezinha, ó palhaço..." Era LURDITAS ORVALHADA, rubra de excitação e raiva incontida..."Fascistas, fascistas...não se lembram das experiências do Dr. Mengele ...??? Não... esse não exterminou ninguém...era um santinho...fascistas!!" gritava inconformada LURDITAS...Já o organizador DAME CONSELHOS tinha sido atingido, em pleno rosto, com uma tarte de excremento de galinha vinda não se sabe de onde, enquanto pensava..."Jesus, mas o que é isto..??? nunca aconteceu tal coisa num congresso...parecem demónios....ele há aqui coisa estranha..."Nesse preciso momento a Dra. CLARABELA FUNGE, eminente socióloga e especialista no acasalamento e divórcio das pacassas da foz do Kazembe, invadia o palco e derrubava o palanque, acompanhada de um grupo de 18 zulus que logo iniciaram uma dança tradicional com máscaras e zagaias,,,algumas enviadas com certeira precisão, para a assistência que não parava de urrar, numa excitação colectiva e incontrolável...
10. ALIMARIA DAS TRIPASCORAÇÃO mantivera alguma calma e, de pé, confidenciava ao seu parceiro ao lado... "Mas isto não tem condições para continuar...logo este ano que eu tinha preparado uma intervenção sobre A Função PsicoDigestiva do licor de gengivas das baratas da Mongólia , bolas..já é azar..nâo acha colega" - "Mas sim...claro...claro...já é azar..." respondeu PAXÊKU, o colega sentado ao lado..." E o colega, tinha algo em mente para apresentar??" questiona ALIMARIA "Tinha em mente...tinha...se tu quisesses...." responde, com voz libidinosa, PAXÊKU, olhando guloso para as exuberantes pernas e ancas de ALIMÁRIA..."Se quiser... há ali um gabinete vazio,..." insiste o esverdeado.."Por quem me toma, seu ordinarão???? Não sou nenhuma drogada da Sé, ouviu??" e logo presenteia PAXÊKU com um valente bofetão na ciclópica penca, obrigando-o a levantar-se e a abandonar o anfiteatro corado de vergonha...( aquele chapadão fê-lo recordar algo...)....
11. O Caos estava definitivamente instalado no palácio...cadeiras arrancadas, voavam pelo ar...o lustre grandioso do hall de entrada jazia no pavimento, partido em mil pedaços...os fios da instalação eléctrica, todos soltos, pareciam lianas numa selva tropical...grupelhos aqui e ali, esgrimiam os seus argumentos, desde o insulto, à chapada passando pelo pontapé e biqueirada...no que restava do hall de entrada PAXÊKU procurava orientar-se para a saída...nisto um contingente de polícia, finalmente reclamado por alguém, entra nas instalações comandado por uma esbelta figura, morena, com bigode ligeiramente grisalho que coroa uma boca, cujo sorriso, deixa antever dois dentinhos afastados e muito sexys... grita o comandante "È ele!! É ele!! corresponde à descrição!! Esverdeado, com aqueles olhinhos sumidos e aquela arquipenca...É ele!! prendam-no imediatamente"
12. Nessa mesma noite, algures em Lisboa, numa rua tal nº de tal andar de tal, uma doce gazela assistia, prostrada no sofá à última edição do telejornal "Boa noite, estimados espectadores...Acabou em clima de grande violência e confusão o tradicional congresso..de....no Porto.....dezenas de prisões efectuadas...várias pessoas hospitalizadas....PAXÊKU, em prisão preventiva, responde amanhã em tribunal da polícia....."

06 janeiro 2006

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 3º EPISÓDIO

Enquanto corre para aí, num horário menos nobre, uma blogonovela mexicana para um público mais rasca, made by fantasmadaopera all alone, voltemos à blogonovela de horário nobre.
Só para mostrar, aliás, como esta não é linear, nem vive monotonamente das mesmas cinco ou seis personagens, toca a mudar rapidamente de plano, de cenário, de situação, de personagens. Cara Danjo, lembram-se?, dirige-se para determinado sítio, mensajando no telemóvel. Ora bem. Longe dali, numa mansão de estilo medieval, Madame João Plantier (nome fino, de ressonância francesa) fala com o seu espelho mágico.
O espelho, amedrontado, baixa os olhos.
Madame grita:
- Tenho uma pergunta. Olha para mim. Já!
O espelho ergue duas fendas míopes, temente, tremendo.
- Sim, Madame.
- Há alguém mais belo do que eu na eslav (tirando o Abel, que não admite que se fale na sua beleza)? Há alguém mais belo, até, no país, no mundo, no universo? Sou eu a Simplesmente Belíssima do título? Sim ou não? Sou a personagem principal? Sim ou não???
Todo o espelho espelha reticências.
Madame insiste:
- Diz, ou parto-te a cara!
Perante a ameaça, o espelho rouqueja:
- É difícil que possa ser Madame a protagonista. Corre por aí que Madame entrará como a má da fita. Corre que se irrita facilmente com os alunos, mais facilmente ainda com os professores. Que as paredes da escola estão carregadas da sua voz furiosa, dos seus planos maquiavélicos, das suas discussões com o próprio chefe. Corre até que Madame terá sido a principal orquestradora de que o atirassem para o Lar dos Reformados em Stress...! E tudo friamente planeado, entre dois SG...!
Madame berra:
- Calúnias! Vê-se logo que é gente que não me conhece. Por quem me tomam? Fumar SG, eu!? Alguma vez na vida?
(CONTINUA)

O GRANDE CONGRESSO 2.A viagem (cont)

(Cont) 5. A viagem prosseguia rasgando aquele dia 10, com o cavalo de ferro devorando milha após milha, transportando os nossos heróis congressistas ao seu destino; era quase meio dia e Aveiro estava ao alcance da vista...no interior do compartimento, o bando dos cinco distribuía-se em diferentes posturas. ANA PENTECOSTES, de cabeça apoiada no vidro da janela, olhava a paisagem que corria veloz aos seus olhos e pensava.." Como esta paisagem me lembra aqueles gloriosos anos que, ainda jovem e ao serviço do Partido, passei em missão nas estepes e tundras siberianas...ali sim, havia firmeza...o camarada José iniciou o processo ainda nos anos 50 e o camarada Nikita continuou-o nos idos de 60...foi um lindo extermínio de Tunguses, Iacutos, e de religiosos....e os budistas, batistas e cristãos....foi um ver se te avias...os lamas e xamãs daquelas minorias...vá tudo para o gulag ...e os templos...vá tudo arrasado e queimado....e os laboratórios de parapsicologia....um mimo...que belo estágio fiz naquela Academia de Novosibirsk...e agora o que me resta...praqui a aturar estes papalvos e estas tretas de Congressos....bah....". Não é que a paisagem perto de Aveiro fosse semelhante às estepes e tundras siberianas mas, o bichinho roía dentro de PENTECOSTES e era forte, o bicharoco....
ANABOLA MAOÍSTA tricotava um cachecol em malha..."Isto faz bem aos nervos, alivia o stress pré- congresso...é para o meu filhote..."-"Podias fazer algo de mais profundo, caramba!!" dispara, subitamente, LURDITAS..."Fazer malha,...puf...pelos vistos mudaste muito...quando eras catraia não fazias cachecóis...fazias arruaças, com os badamecos do MRPP, Morte ao COPCON, Morte ao COPCON... Morte ao Social Fascismo...e agora deste nisto...fazer malha pós filhos..."reforçou a LURDITAS..."Cala-te, minorca....tem respeito pelo meu nome, ouviste?? eu tenho responsabilidades...não sou como tu...diz-me lá, ó bago de arroz o que é que tu fazes de tão profundo assim.???::" - questiona ANABOLA, levantando-se do assento e assumindo uma pose de ataque, com ambos os punhos nas ancas e dedos trémulos..."Vê lá se te salto ao penteado, minha linda...não me provoques..." responde LURDITAS, pondo-se de pé onde os outros se sentam, retirando as cangalhas para um lugar seguro..."Então , meninas...calma..um pouco de temperança...isto aqui não é a praça do peixe..." atira TERESA PRANTOS..."Praça do peixe?..Ouve lá, ó cabeça de couve flor, tás-me a chamar peixeira, é.?? levas já com a foice e o martelo, quinté estala..." intromete-se ANA PENTECOSTES...de repente, as 4 magníficas todas de pé enfrentam-se, ameaçando transformar aquele pacato compartimento de combóio, numa rua secundádia de Bagdad...Mas eis que, surgindo não se sabe bem donde, uma figurita escverdeada-tom-de-vómito, se interpõe e, emanando um poderoso raio luminoso de um olho também verde vómito, produz um clarão que logo acalma as beligerantes creaturas...Como por magia, retornam aos seus lugares, com olhares vagos e cabeças zonzas e ali ficam sentadas por uns minutos..."Tudo calmo e normal, outra vez...uf...não foi fácil!!" pensou PAXÊKU, o NÃO-SER-ESVERDEADO-VÓMITO....
6. Aveiro ficara para trás há alguns minutos; já se entrava na tarde quando o alfa pendular, rasgando Gaia, entra a todo o vapor em Campanhã. "Vamos meninos, é andar rápido para apanharmos o combóio para S.Bento...despachem-se.." ordena, uma vez mais ANA PENTECOSTES. "Raios...esta gaja tá sempre a dar ordens...deve julgar que eu sou o Lukas...irra que já não tenho paciência...qualquer dia vou-lhe aos fagotes...SOCIAL FASCISTA.." era ANABOLA MAOÍSTA quem assim pensava, enquanto se efectuava a mudança de combóios...
7. Finda a viagem e já no hall do Hotel ParaPsiK, na zona central da cidade, o grupo fazia o check in para, finalmente, se instalar e gozar de um merecido descanso...Com os cotovelos apoiados no balcão da recepção PAXÊKU sibila...."Hi Hi...a esta hora já comia uma francesinha..."- logo LURDITAS e TERESA PRANTOS ripostam " Seu anormal, malcriadão....isso come-se em França, não é aqui neste hotel..." isto é uma casa séria que eu já cá passei férias..." reforça ANABOLA..."Mas não...não é o que estão a pensar..." defende-se, trémulo, o esverdeado..."Cala-te já, energúmeno!!! Olha que quando chegarmos a Lisboa bufamos tudo à tua mulher, ouviste??" - cimentou, autoritária, ANA PENTECOSTES. "tá bem...desculpem...mas não lhe digam nada...." logo acata o esverdeado, com os joelhos a bater, roendo neuroticamente uma unha...
8. A noite seria boa conselheira e repousante para todos, na véspera do grandioso Congresso...Todos prepararam os seus materiais para o dia seguinte; eram já 11 horas da noite e havia que repousar...
No quarto 1111, solitário, numa cama de casal (tinha sido o último quarto disponível ), PAXÊKU esquecera já a francesinha e, com os olhinhos minúsculos semicerrados e a prodigiosa penca apoiada na almofada do lado, pensava na sua doce gazela, galopando graciosa pelos prados verdejantes...assim adormeceu...mas, ... algo inquieto , julgando ouvir ao longe, muito ao longe um fantasmagórico chamamento em voz grave..."PAXÊKUUUUU...BEM VINDO....CÁ TE ESPERO...AH! AH! AH!.."

O GANG: EPISÓDIO ÚNICO

Augusto, o augusto, com o seu pulôver de um vivíssimo vermelho, estava, nesse dia, curiosamente recatado. Não o víamos nem ouvíamos gargalhar estrepitosamente, nem a falar dos touros de Alpiarça, nem dos de Linda-a-velha, nem a meter-se (da boca para fora, é evidente) com o mulherio: e a razão de tão selecta compostura, era que o augusto Augusto tinha de conduzir e fingir que levava a sério um grupo de senhores universitários, muito pouco efusivos, de ares fúnebres, que tinham vindo visitar a escola e participar nuns vagos projectos.
O habitual «Gang» da Eslav ressentia-se dessa sua placidez.
Entretanto, o fantasmadaopera, sentado com as patas em cima da mesinha baixa da sala de professores, com uma gabardine acinzentada, muito surrada, rabiscava na memória os traços dos professores que iria imortalizar em caricaturas. Muito ao fundo, noutra mesa, entre mulheres, Paxêku, o grande filósofo, o super-herói da escola - que até já haviam tentado envenenar: inclusivamente o Chefe Lucas oferecera-lhe, pelo Natal, uma garrafa de um vinho da sua produção -, esse nobre Paxêku ria e perorava, inocente das raivas invejosas que causava por aí.
Fantasmadaopera pensou: «Este gajo é o meu primeiro e último alvo. Não vejo mais nada à frente. Eu bem o ataco, bem o caricaturo, e nada. Bem o ponho a babar-se, a urinar-se, e nada...!»
O senhor Pedro levantou-se: «Bem! O dever chama-me». E foi tomar um cafezito. Depois, regressou.
O fantasmadaopera, entretanto, considerava:
«Um verdadeiro gang tem de fazer mais do que fazemos. Bolas! Há quanto tempo não defrontamos outros gangs? Hein? Há quanto tempo não fazemos uma verdadeira arruaça? Não partimos vidros? Não vamos esperar portistas ou sportinguistas ao aeroporto para lhes dar correctivos devidos?»
O senhor Pedro, que já voltara e se sentara, sacudia a cabeça, concordando. Abel servia-se de um copinho de água, acariciando a pochete.
«Bem. O dever chama-me», lançou de novo, com um ar fatigado, o senhor Pedro. E dirigiu-se à casa de banho.
«O que eu penso que devíamos fazer», explanou o fantasmadaopera, «era livrarmo-nos de uma vez daquele traste. Que dizem?»
Vários olhares convergiram na direcção do magnífico e invejado Paxêku. Aliás, Sindroma. Aliás, Greenligth. Todo ele heterónimos, ideias, luz, brilho, cultura... As mulheres em volta riam-se perdidamente da sua última graça, de resto, de facto, muito engraçada.
O fantasma já não sabia que fazer. Um gang é um gang, não é uma ganga, ora bolas! Não se espera que passem os intervalos sentados num cantinho para onde os escorraçaram e onde ninguém lhes dirige palavra. Levantou-se. Cerrava os punhos no interior da gabardine sebenta. Os dentinhos alargavam-se-lhe na boca, de pura maldade, afatando-se muito uns dos outros.
«Queres um murro?», perguntou, furioso, a Paxêku.
«Eu, não. Porquê?», ponderou o herói, surpreendido com uma pergunta tão estúpida.
«Aaaah... nada, nada, era só para saber». E foi-se embora, desiludido. Porcaria de gang que não era capaz de aterrorizar ninguém, agora que o Greenlight velava. Aquilo não era um gang. Era uma ganga.

05 janeiro 2006

O GRANDE CONGRESSO - 1 - A viagem

1. ANA PENTECOSTES, em pleno cento do seu gabinete, questiona LURDES ORVALHADA..." Lurditas, já compraste os bilhetes?? sempre sacasta 10% de desconto através da neT??" - " Pró Ballet Nacional de Espanha no CCB...??" - responde LURDES ORVALHADA com ar um pouco confuso e ausente... " Não, sua cabeçuda...pró combóio...irra...Para a nossa ida ao Porto..."- " Ah...ao Porto...mas é claro , ao Porto...ao nosso Congresso...que cabeça a minha...Mas sim já fui ao Multibanco e comprei para todos; dia 10 arrancamos de manhã e voltamos a 14" - "Óptimo! temos que avisar os outros e combinar as horas de nos encontrarmos na estação...é no Oriente ou Sta. Apolónia?" - "É Sta Apolónia, ANA", confirma LURDES.
2. Dia 10, pelas 9,30h da manhã, no cais de embarque nº4 de Sta. Apolónia, encontra-se um grupo de curiosos personagens, a saber: ANA PENTECOSTES, LURDES ORVALHADAS, TERESA PRANTOS, ANABOLA MAOÍSTA e PAXÊKU...-Diz este último para o grupo.."Tou ansioso por chegar ao Porto e participar no nosso Congresso de Druídas PsicoFilosóficos...Este ano vai ser grandioso..." "Sim. grandioso como o apêndice que te nasce de entre os olhos..." pensou, sem dizer, TERESA PRANTOS..."Vamos meninos, entremos na nossa carruagem antes que venha a maralha toda...isto não é o refeitório lá da escola..." - ordenou ANA PENTECOSTES. Todos subiram, calmamente, ocupando os seus lugares e instalando-se confortavelmente em 1ª classe. Após o sinal, o alfa pendular arranca em velocidade moderada, para logo depois, qual cavalo de crina ao vento, galopar vertiginosamente, galgando léguas atrás de léguas...
3. São 10.30 h; a lezíria vai passando, aos olhos dos nossos personagens, como um filme...ANABOLA MAOÍSTA pergunta tímidamente..."Trouxe aqui umas coxinhas de frango e uns salgaditos pra entreter...alguém quer? "Sim, passa aí uma coxa, que já mando uma certa larica" - estendeu a mão, gulosa, TERESA PRANTOS; Ninguém mais tinha fome. LURDITAS ORVALHADA lia, concentrada, um infólio de 840 páginas chamado "Crítica da Razão Impura"...ia na página 10....ANA PENTECOSTES, com óculos postos, alinhavava umas notas num pequeno bloco, extraídas da sua leitura atenta de "A Idiosincrasia das Abetardas nos Primeiros Anos de Vida"...TERESA PRANTOS, folheava, nervosamente e com os dedos engordurados da coxa já deglutida, o último nº da revista "PsikeFilos", e comenta: "Diz aqui, no artigo do Dr. AlmaLimpa Penaguião uma coisa muito interessante...ora oiçam: os fundamentos do pensamento filosófico são como as fundações dum prédio de 12 andares: são só betão...isto , numa perspectiva psicofilogenéto-desenvolvimentista, conduz-nos, por certo ao âmago da ARGAMASSA...é espantoso, não acham???"Tretas..." atalha, convicta, ANA PENTECOSTES... " Eu cá acho que o gajo tem uma certa razão...não te parece??" intervém ANABOLA questionando PAXÊKU...mas este, embalado pelo suave ronco das rodas nos carris, já dormitava, com a cabeça bamboleando de um lado para o outro, enquanto no seu colo jazia, aberto na página 764, um magnífico exemplar de " Eu, Zaratustra, Miguel de Vasconcelos e Pedro Homem de Mello - Cartas"
4. Nisto entra no compartimento o revisor - pica bilhetes - para executar o seu controlo; PAXÊKU olha fixamente a personagem e é acometido de um súbito tremor...nas mãos, nos joelhos e nos dentes...a vista tolda-se....a atmosfera adensa-se insuportavelmente...ele vislumbra uma face morena, adornada com um lustroso bigode um pouco grisalho que remata uma boca que sorri para ele, mostrando dois apelativos e sexy dentinhos afastados...."Não... não acredito... é ele...também aqui...larga-me, assombração fantasmagórica...VAI-TE...VAI-TE...SOCORRO...SOCORRO.....AI..AI..AI...."- "Acorda,PAXÊKU...GAITA...tavas a sonhar e a fazer um escarcéu dos diabos..." diz TERESA PRANTOS abanando vigorosamente o sonhador... "Além disso, tens uma poça de urina junto aos pés...bolas...que vergonha...eu nem te conheço..." confirma ANA PENTECOSTES... "E babaste o livro todo...até está amarelo....que nojo..." - acrescenta ANABOLA ..." Caramba, pá...o teu suor pingou pra cima de mim.. e tou toda molhada na cabeça e nos ombros...é demais...devias tomar qualquer coisa...livra!!" remata LURDITAS ORVALHADA. PAXÊKU estava incrédulo...sonhara...tinha sido uma visão..."enfim, felizmente não era real...." - Começava a ficar mais calmo, limpando-se como podia...fechou o livro, arrumou-o na prateleira por cima da sua cabeça, junto à andrajosa pasta preta e encostou a ovalóide forma que se apoia no pescoço, no encosto do assento...o combóio estava a chegar a Coimbra B.
(CONTINUA)

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA - 2º Episódio (em 16:9)

Atrapalhado, lívido, sentiu um arrepio daqueles que dão poucas vezes na vida. E não era do tempo - ameaçava chuva mas ele estava quentinho. Com o coração aconchegado com a visão da sua princesa, olhou para o camelo da chávena de café e de algum modo, achou que era parecido consigo.
Engoliu a bica, rodou o pé para apagar a beata e apressou-se em direcção à escola. "Talx a veja +1x", pensou graficamente, enquanto procurava num dos dez bolsos das calças que orgulhosamente deixavam ver o cós das cuecas Kelvin Kleine and Hobes que a avó lhe ofereceu no Natal, o papelinho que o fantasmadaopera lhe tinha passado.
"Ah! Axei!" Denegrido e tingido de azul denim, o papelinho tinha dois lados. Usara apenas um e tinha corrido mal. Agora, finalmente iria ser-lhe útil; a mãe ofereceu-lhe no natal o livro das previsões para 2006 do Paulo Cardoso, mas precisava confirmar os sentimentos que via crescer. Releu a mensagem novamente:
Professor URBANOC - Especialista em todos os trabalhos ocultos. Consultas individuais. Envie um sms com o texto: "pi-alfa-miu" para receber a senha de acesso ao serviço. Custo por sms: 0,60cent.
Achou barato para o tamanho da ajuda de que precisava.
Teclou a mensagem e enviou. Nos breves instantes que provam a eficiência do serviço, o telemóvel vibrou silenciosamente; tinha tirado o som, não fosse acontecer como daquela vez em que o BossAC o ia desbroncando no copianço no teste de história...
Na resposta recebeu uma mensagem evasiva que o deixou ainda mais baralhado do que o episódio de ontem dos Morangos com Açúcar.
A mensagem dizia: "Representa pelos seus traços nos planos de projecção, um plano de perfil que contém o ponto A (2ae; -3; +4)".
Dj Cara Danjo tremeu. Que mensagem enigmática! Logo ele que detesta enigma, aquela música dava-lhe arrepios.
Precisava de ajuda, que lhe indicassem um caminho e via assim correr-se mais uma cortina...

(CONTINUA)

BLOGONOVELA: O PRÓXIMO ESCREVENTE (EU NÃO DISSE ESCRAVO) QUE PONHA O TÍTULO

Os professores mais antigos (quase todos, segundo o novo plano de reformas) lembram-se da invenção da roda, dos Descobrimentos e do papel de Portugal nos mesmos, de Alcácer-Quibir e das primeiras rádionovelas, como por exemplo «Simplesmente Maria». Depois, lembram-se das telenovelas, que interrompiam a vida, o comércio, o Parlamento (embora me pergunte como é que se pode interromper o trabalho - a palavra não é aqui usada para ofender os senhores parlamentares - no Parlamento...). Mas o blogue, sempre um passo à frente (leia-se, sempre já mais próximo do precipício) inaugura hoje a primeira blogonovela - pelo menos, que eu saiba.
I
Não tinha havido qualquer equívoco: aquilo fora maldade pura. Dj Cara Danjo convencera-se (ou melhor, fora malevolamente convencido) de que o queriam num party, na sua qualidade de dj de fim-de-semana; passara a tarde anterior ensaiando diante do espelho, cheio de estilo, com um boné de pala voltada para trás, uns auscultadores, óculos escuros para o protegerem do brilho da «night»; treinara os dedos ágeis sobre os discos, provocando ruídos - a avó sempre o elogiara nesse capítulo. Sempre o quisera exibir aos mais conceituados da sociedade: «Este menino faz demasiado barulho! Têm de o levar ao médico!» -, silvos, distorções de som, etc. À noite, pusera-se a caminho. Bem. Há que dizer que achara a discoteca muito estranha. O nome - que tomou por ironia: «Deus nos Acuda» -, no entanto, pareceu-lhe interessante. E o porteiro correspondia a um conceito muito inovador: também o não queria deixar entrar, como todos os porteiros de todas as discotecas, mas, contrariamente ao habitual, era uma mulher e estava de bata branca. Ah, e tal, não pode entrar, e tal, não senhor, quem é você, e tal...? Explicou: Venho animar isto, pá! Entrou. O ambiente era completamente diferente. As pessoas não moviam cadenciadamente a cabeça, tirando uma ou duas que se veio a descobrir que era por causa de doenças. Aliás, não havia música. Gritara, então: «Ôi! Curtindo a night? Preparados para arrombar? Vamos abanar?»
Perante uma série de equívocos, ao ouvir uma voz feminina que gritava permanentemente, e outra que insistia em fazer um presépio vivo, insistindo em enfiar fios de ráfia nas cabeças das pessoas, mais uma voz máscula que repetia «Podem prender-me, que eu é que sou o presidente do Conselho! Serei sempre; nem pondo-me aqui se livram de mim...», quando percebeu por fim que fora enganado, que o «Deus nos Acuda» não era uma discoteca diferente, mas um Lar de Professores Reformados em Estado de Stress, era muito tarde. (Eram três da manhã...) O fantasmadaopera, que lhe dera o endereço com um sorriso sinistro, enganara-o bem. Terrível personagem!
Agora, sozinho numa mesa do Gema D'Ovo, fumando muito, embora já tivesse prometido a si mesmo que só fumaria na escola, Cara Danjo entregava-se à depressão.
Foi então que a viu entrar. Primeiro, pensou, pelo ar garrido, que fosse demasiado miúda para si. («Sou algum portfólio, ou quê?»). Depois, reparou melhor: era uma mulher lindíssima, irrequieta, pequenina, como ele gostava... Bem. Aí, o seu coração principiou a acelerar. Era uma paixão. A verdadeira. A única, tinha a certeza - todas as paixões verdadeiras e únicas por que já passara haviam começado exactamente assim. Claro, ele não podia adivinhar que Dolores (na altura, ainda nem lhe sabia o nome) era, como em todas as novelas, a menina rica, mimada, inacessível. Ele não podia adivinhar, coitado, em que problemas se ia meter...
(CONTINUA)

04 janeiro 2006

GREENLIGHT ATACA DE NOVO. (INFELIZMENTE...!)

Um traço de luz verde risca a negra noite. Será um pirilampo? Um pirómano? Um pirolito? Um piri-piri? Não! Ééééé Greenligth!
Greenligth vela sozinho na noite. (Pelo menos, é o que ele pensa).
Sente-se uma vítima, um perseguido, um triste, um traste, um infeliz. Ou seja, está em forma.
Ouve um ruído alguns passos adiante. Não muitos. Talvez três. Ou quatro. Ou cinco passos, não mais. Menos do que a oito passos de si, isso é certo.
Poderá ser acaso Lex Luthor? O Duende Vermelho? Um inimigo a soldo do Ministério?
Felizmente, Greenlight está preparado: trouxe consigo a arma secreta, o «laser» das queixinhas que, como o nome tão bem expressa, atordoa o mais feroz inimigo sob um rol de lamentos.
Eis que, de repente, o esperado inimigo se torna visível em todo o seu ventre etéreo e volátil.
Os dentes do monstro, muito afastados uns dos outros por efeito da maldade, brilham na noite. É o fantasmadaopera. Não se lamenta. Pelos vistos, a este, corre-lhe bem a vida. É só fazer bonecos! O mais custoso, claro, é aquele esgotante e trabalhoso tempo de convívio e descanso no gabinete do triunvirato, para completar horário, mas que fazer? Não se pode ter tudo...
A sua gargalhada sinistra ecoa na noite. Hã? Está alguém a seu lado. A dois passos dele, ou três, certamente não mais do que a quatro, quando muito seis. Greenlight percebe tudo: o fantasmadaopera não tenciona sequer sujar as mãos com ele, pelo que contratou o primo do dirigente benfiquista, o que deu um estalo naquele senhor bem nutrido, no aeroporto. É esse energúmeno que prega um par de estalos no Greenlight. Fantasmadaopera só tem, depois, que terminar o trabalho arreando-lhe com uma «blogada» (ver em baixo) que o deixa a ver estrelas.
«Deve ter espiões», pensa Greenlight, mal se refazendo do choque. «Como é que ele conhece tão bem o doce despertar da minha doce gazela? E como consegue reproduzir tão fielmente as minhas reuniões com os pais? E como descobriu o meu método secreto de correcção dos testes? Aqui há gato!»
Ainda traumatizado pelas chapadas e pela «blogada», agora também com um olho verde, já sem dentes na boca, ainda tem forças para berrar:
- Ifto não fica afim, Fantafmadaopera. Não perdef pela demora. A vinganfa ferve-se fria! Ferve-se fria!? É boa! Em fuma, vaif ver fó, vaif ver fó...!

03 janeiro 2006

MENSAGEM DE ANO NOVO (Versão da D.Lurdes)

Caros professores:
Venho deste modo desejar-vos um ano repleto das maiores alegrias e a(bes)pinhado de sucessos profissionais. Espero que as minhas circulares vos tenham chegado em bom estrado; eu e os meus colegas temo-nos esforçado muito por vos manter felizes e contentes enquanto estão na vossas escolas, que é o sítio onde devem passar as melhores horas dos vossos dias.
Quero que todos vós tenham a noção de quão caros nos saem. É por isso que temos que rentabilizar ao máximo as vossas (in)competências; sei que alguns de vocês têm andado tristes e deprimidos porque não vos demos tudo o que vos prometemos, mas isso deve-se apenas ao facto de considerarmos que os vossos pedidos têm que ser satisfeitos quando todos, mas mesmo todos, tiverem provado que são realmente capazes.
Abençoo aqueles que fizeram greve a mando do sindicato e espero que haja mais ao longo deste ano. Juntos, já conseguimos equilibrar o orçamento do nosso ministério para gastos de telemóvel. Se cada um de vocês descontar 40 euros por cada dia de greve podemos continuar a mandar circulares em papel de melhor qualidade e talvez até possa vir a mandar um postal nas próximas férias; o Zé prometeu que me levava ao próximo Safari. Conto com a ajuda dos sindicatos; graças a Deus eles existem.
Oh! Um dia, quando me reformar, hei-de ter saudades das tropelias que fizemos juntos neste ano que findou!
Prometo que não vos vou esquecer por um segundo em 2006. Aqueles que começaram a trabalhar no dia 2, dia par para afastar o azar, já viram como vos brindei com novidades para o novo ano!
Já percebi que nem todos têm capacidade para entender o que escrevo. Aos mais iluminados deixo os meus votos de continuação de bom ano! ML

02 janeiro 2006

UM DIA NA VIDA DO SUPER HERÓI...

1....Toca o despertador às 6.30 horas em ponto...a noite ainda cobre com o seu negro manto, as colinas da cidade; nesta cidade, no bairro tal e na rua de tal, nº tal andar tal e tal, o SUPERHERÓI abre, a custo, um olho e pensa nas múltiplas oportunidades que o novo dia que , lhe trará...mas, de súbito, uma voz meio rouca atira-lhe ao ouvido esquerdo "...Levanta-te, madraço, que já são horas de dar o biberão à tua filha!!!"e não te esqueças de por a mesa, de acordar o dorminhoco do teu filho e de me encheres a banheira...vamos lá a despachar, podengo!!!" O nosso SUPERHERÓI, ABRINDO O OUTRO OLHO, logo se ergue do ainda quente leito e, pressuroso, inicia o cumprimento das tarefas ordenadas....pensa ele " raios, e dizer que esta gaja me adora, vou ali e já venho..."
2. Após cumprir com zelo as matinais missões ordenadas, o nosso SUPERHERÓI veste, apressadamente, a sua toillette habitual da qual se destacam os famosos collants verde vómito....pega na andrajosa pasta preta cheia de metáforas pitagóricas e silogismos ilógicos e, é vê-lo, em demanda da sua escola para enfrentar mais um dia em que, de certo, vomitará as habituais queixinhas de quem se sente um pobre desprotegido da sorte...
3. Chega à escola; vai leccionar uma turma do 10º ano e, no caminho para a sala de aula, pensando alto murmura baixinho ..."Que má sorte a minha!!! podia ser um mineiro e estar Há 16 horas debaixo de terra a cavar, ou um motorista da carris, ter pegado às 5.30 da manhã e após 8 horas seguidas a conduzir dentro de Lisboa, regressar à minha rica casinha em Cruz de Pau ou, quem sabe, ser um arvorado de construção civil e já estar com 2 horas de obra a fazer massa e a dobrar ferro até às 6 da tarde....logo tenho que vir dar dois blocos de aulas a estes alunos insolentes...tudo por causa daquela gaja do M.E. que me obrigou a aceitar esta miserável profissão..."
4. Após os dois blocos purgatóricos, o nosso SUPERHERÓI apressa-se para, com outros desprotegidos da sorte, encher a a mula no refeitório...sim hoje é um dia horrivel porque tem que comer a enjoativa e oleosa comida do refeitório...demora cerca de 1 hora nesta espinhosa missão, mais 30 minutos para saborear a sempre irritante bica que o M.E. lhe impõe...Mas porque tem o nosso SUPERHERÓI que comer hoje no refeitório quando, geralmente, até sai sempre a horas de ir comer a casa e passar umas belas horas em processos reflectivo-cognitivo-especulativo-afirmativo-negativo, problematizando a essência do ser e a subsância do não-ser....
Porque à tarde, SIM ESTA TARDE!!! ele tem que receber pais (ou E.Educação) POIS ABOCANHOU, PARA COMPLEMENTO DE HORÁRIO, NÃO 5, NÃO 4, NÃO 3,...MAS 2 DIRECÇÕES DE TURMA....Que horror...que maldade...Não se faz....
5. Após registar por meios informáticos, algumas faltas das suas D.Turma, eis chegada a hora fatal..." Vêm aí os pais, prepara-te, acalma-te..." pensa ele enquanto se dirige à casa de banho, para lavar a cara com água fria e, meter dois calmantes no bucho, antes de se injectar com uma dose na veia de produto ANTI-PAIS... Está finalmente preparado; chega uma mãe que, tímidamente, se introduz na sala apresentando-se..."SoTor, desculpe incomodar...sou a Mokamba Catumbela...máe do Béleza Cátumbela...só keria perguntar si ele si porta bem, si non falta, si fás trabalho di casa..." O SUPER tremeu convulsivamente, arrepanhou alguns dos míseros cabelos que lhe restam e acariciando o prodigioso apêndice nasal, responde..."DESAPAREÇA, VA EMBORA...NÃO SEI NADA....EU NÃO O CONHEÇO ...NEM A SI...." A desditosa mãe dá corda à sandália e logo se retira pensando , saudosa, nas margens do Cuanza...O nosso SUPER, respira ofegante quando, um novo pai se atreve a transpor a porta da sala..." Boa tarde, dr....desculpe vir a esta hora...mas o patrão não me deixa saír mais cedo para vir à escola, sabe.???... Sou o pai do Filipe Canelão, ...tá a ver, não tá??? Como vai ele na matemática? e no português?" O SUPER, transpirando abundantemente e roendo as unhas até aos cotovelos, cospe irritado e fora de si " PRA TRÁS Ó VIL CREATURA...PRA TRÁS DEMÓNIO....DEIXA-ME EM PAZ, ASOMBRAÇÃO...NÃO TE CONHEÇO NEM AO TEU FILHO....SAI! SAI!!!" - logo o pobre sr.Canelão deu asas às botinas e zarpou veloz em direcçao à saída, pensando..." Queres ver que me enganei e vim parar ao Miguel Bombarda?...mas o autocarro dizia Linda-a-Velha..."
5. Eram já 5.30 da tarde e o negrume da noite galopava, célere, para os braços do dia....O nosso SUPERHERÓI parecia, por fim, um pouco mais calmo...o que meteu para a veia estava a fazer efeito....e tinha acabo a malfadada hora de receber pais....Saiu da sala, penetrou no espaço contíguo e levantou duma mesa baixa duas revistas..."Posso, enfim, ler um pouco a revista do Sindicato e instruír-me mais..." pensou, confortado com a idéia...mas logo um traiçoeiro e imiscuído raio luminoso tornou claro um texto de 1ª página que dizi: "A Bola - jornal de todos os desportos - notícia em 1ª mão - SAD do SCP declara falência; presidente leonino põe termo à vida, enforcando-se no intestino do seu treinador principal (disfarçado de adjunto); debandada dos principais jogadores para o estrangeiro, para o Sarilhense, para o Arrentela e para o Costa da Caparica" - era de mais para o coração deste SUPERHERÓI; cambaleante, percorreu o caminho do polivalente em direcção à saída, apoiando-se nos pilares da vasta sala com a ridícula e andrajosa pasta preta na mão esquerda...pensava na mulher que o adora, no filhinho de 10 anos que o venera e na bebezinha recém nascida que chora de dia e de noite a reclamar a sua atenção de feliz progenitor...baba-se um pouco e respira fundo..." Bolas...ele há dias em que um SUPERHERÓI de manhã não deve sair à tarde porque se faz noite...Bom ainda tenho aqui uma turma de testes para corrigir..."
6. Regessado, por fim, ao remanso do lar o nosso SUPER enfrenta com olhar decidido, a pilha de 12 testes do 10º ano que tinha para corrigir, amontoados sobre a secretária de mogno em cujo tampo conviviam "O Elogio da Loucura", o maquiavélico "O Principe", "As dez anedotas mais famosas de Bertrand Russel", "O barco, sulcando as searas alentejanas - uma interpretação de E. Kant" e um jornal, amarfanhado, rasgado e com uma 1º página ilegível... "Bem, vamos lá a isto...amanhã tenho que entregar os testes...já ando com eles na pasta há 2 semanas..."- dirige-se, então , com os braços esticados e as mãos abertas, como um lutador de Sumo e, agarrando na pilha de testes lança-os, na vertical, para a atmosfera...dos 12 testes, 4 caíram sobre a cadeira " Estes têm positiva..." murmurou, cínico... os restantes 8 estatelaram-se no chão..." estes ignorantes...têm todos negativa" concluíu, com um brilho metálico nos olhinhos de raposa matreira....
7. Concluído o cansativo processo de correcção dos testes o nosso SUPER procurou a caderneta respectiva para registar as classificações..." mas onde está o raio da caderneta??? ainda agora aqui a tinha..."
Sem se aperceber, no êxtase do seu lançamento dos testes ao ar e no clímax das classificações atribuídas, o nosso SUPER tinha, inadvertidamente, tocado com o cotovelo direito na dita caderneta que, ao caír do tampo da secretária pousou suavemente no tapete que revestia o tabuado, deixando antever, na sua capa, em letra manuscrita,.... PROFESSOR PAXÊKU....

A ÚLTIMA RONDA NEGOCIAL EM DIFERIDO

O blogue, sempre em cima do acontecimento (embora, tratando-se de um blogue de professores, talvez conviesse dizer «sempre por baixo do acontecimento», quer dizer, apanhando com o dito em cima) não poupou esforços para trazer aos seus leitores a reprodução fiel da última ronda (ou deverei dizer: o último «round»?) negocial entre a senhora dona ministra e os senhores sindicatos. Passa a fita, sim?

Dona Lurdes - Tenho muito gosto em receber-vos. Como vêem, preparei uma mesa redonda. Desejo que ela seja um símbolo de uma negociação que deve decorrer em clima de mútuo. Ainda não pensei de mútuo quê, mas o que importa é que seja mútuo. Talvez respeito? Ah! Ah! Ah!
Palhaço Pepito (em representação da incontornável Pré-Ordem) - Ah! Ah! Ah! Xim xenhora, xim xenhora. Tem muita graxa, muita graxa...
Dona Lurdes - Obrigadíssima, senhor Pepito. E ainda há quem diga que eu estou contra os sindicatos. Que disparate! O senhor Pepito, por exemplo, que eu adoro, tem uma visão muito coincidente com a minha do que deve ser um professor: basicamente para fazer umas graças, entreter meninos, mantê-los na sala... Mas vamos então sentar. Sit! Não, não, não! Aquele senhor é no canto. Voltado para a parede. Sozinho.
João Fenprófe - Não pode ser. Só tenho uma palavra: Aulas de substituição, não! É já uma greve. Dou-lhe já com uma greve.
Dona Lurdes - Ora sente-se aí quietinho. Também poderá falar, mas na sua vez. Mas calado, hã? Falar, sim, mas caladinho...
João Fenprófe - Não às aulas de substituição! Não às aulas de substituição!
Dona Lurdes - Ora bem. Os meus meninos... snif, snif... coitadinhos dos alunos... de quem tenho tanta pena... andam... snif... a ser maltratados pelos professores. Vejamos: os professores passam-lhes trabalhos de casa mas depois não fazem os trabalhos aos seus próprios alunos. Põem-lhes testes à frente, mas depois não fazem os testes aos próprios alunos. Parece que os querem castigar. Os professores não dão o almocinho à boca às crianças. Não as levam à escola. Que é que fazem, afinal? E, por fim, ainda lhes dão negativa. Os meninos não podem ter negativas.
José Fné - Mas ó senhora doutora, os professores portugueses...
Pepito - Não senhor. A senhora tem toda a razão. Os professores devem ser a alegria da petizada. A escola deveria ser um maravilhoso circo. No circo não há negativas, só alegria, tralará-tralará! Ó senhor Fenprófe, o senhor não quer cheirar esta flor que trago na botoeira? Aaaaaah... Ah! Ah! Ah!... uma esguichadela de água em cheio no nariz. Que cómico! Isto é que é pedagogia!
João Fenprófe (limpando-se, ofendido) - Aulas de substituição, não! Sai já uma greve. É já uma greve! E geral, hein? Não é, colegas?
Pepito assobia para o lado. O senhor Fné ergue-se, firme, hirto:
José Fné - É geral. Absolutamente. Isto assim não pode continuar, senhora ministra.
Dona Lurdes - Isto, o quê?
José Fné - Isto, ora esta! Não estamos de acordo com nada. Queremos que nos prometa o céu.
Dona Lurdes - Fica prometido. Se continuarem a suportar o que suportam, ganham o céu.
José Fné - Ah! Bem. Nesse caso... pois, pois, pois... sendo assim... desvin... desvilu... lu... vin... hã?... des-vin-cu-la-mo-nos... dessa tal de greve. Estamos abertos à, à, à...
João Fenprófe - Aulas de substituição não. Vamos já para a greve geral. É já uma. Quando é o próximo feriado? Sai uma greve logo no dia a seguir...
Dona Lurdes - Tratemos mas é da questão do insucesso. Não pode ser. Não pode ser assim. Tenho um plano.
Pepito - Os planos da senhora ministra são muito bons. Parecem os meus planos para alegria da petizada. Vou, por exemplo, pelas costas do meu comparsa, e zás... Seja o que for o plano da senhora ministra, é muito bom. Para a frente é que é o caminho: todos ao circo!!!
Dona Lurdes - Então, ficamos entendidos. Os pormenores chegarão em breve às escolas em circulares.
Pepito- Tudo muito bem, minha rica xenhora. Muita graxa, muita graxa.
José Fné - Sendo assim... fico satisfeito por termos chegado a um acordo tão bom para todas as partes.
João Fenprófe - Não às aulas de substituição. Vamos para a greve. E é já. Uma greve geral mesmo geral: todos os sindicatos unidos menos todos os outros. É já! É já!