

Voltámos sem pretensões. Com mais criações. E opiniões. O verdadeiro blogue sem borbulhas.
Depois do reaparecimento do Fantasmadaópera em dose dupla e já com o texto alinhado à esquerda, ninguém acreditava que mais milagres acontecessem na escola. Ele próprio se espantou com a extensão do seu texto, com o tamanho da inspiração e com a destreza do seu polegar e terá dito, refastelado no seu black sofa: “juro que daqui para a frente, não mais pararei de escrever no blogue, eu seja ceguinho”.
Havia alguns dias que Os Três Rurais andavam aflitos com o desaparecimento do Espantalhuça, o espantalho mais importante da exposição Ruralidades. Espantalhuça era aquele que a cada distracção dos seus progenitores, se escapava para a arrecadação da sala 27 com a única finalidade de irritar os Mestrestics. Por diversas vezes, tinha sido Mestre Márius, o próprio, a expulsá-lo da arrecadação; mas agora, havia dois dias que Espantalhuça desaparecera sem deixar rabo-de-palha. A comunidade rural estarreceu e assim se mantém; desde o desaparecimento de Espantalhuça, o mundo para eles parou.
Su7 e DasDores já procuraram em todo os recantos mais escondidos da escola, incluindo no caixote do lixo que estava amiúde por debaixo da janela da dita arrecadação. Chegaram a ligar à IPODEC, não fosse o desgraçado estar em vias de reciclagem, por via de alguém o ter despejado por engano num cestinho verde que diz: “Só vidro!”. Mestre Márius não tinha dúvidas: estava convencido que Espantalhuça era o único responsável pela súbita agitação que se verificava entre os professores que aderiam ao projecto da Gulbenkian. Todos, menos ele; isso era preocupante. PlanetAzul tinha sido o primeiro a ser atacado, resultando numa campanha pró Sousa Cardozo, “Uma piadinha mesmo ao seu estilo”, pensava Márius, enquanto arquitectava um plano para o caçar.
Os Executivos, entusiastas de todo o tipo de projectos e mais algum, tomados duma súbita euforia, desenvolviam performances no pátio da escola enquanto diziam, “vá, façam coisas giras”; Ana Passover criava arcos coloridos no ar com um par de swings; Cheflucas dominava cada vez melhor as artes do fogo, girando tochas no ar; Carlos Beligerante, ajudado por Alelex, jogavam ao ar um par de devil sticks; Lúcia-Lima cuidava das fardas, consultava etiquetas, pondo de parte qualquer peça de nylon, não fosse o diabo tecê-las. LurdeZorvalho anotava os nomes dos interessados em se juntar ao grupo e que tinham enviado candidatura por email; dispunha as folhas em leque enquanto se abanava, dissipando o calor das tochas do Cheflucas.
É por esta altura que Lara Croft, exímia decifradora de enigmas, coloca hipótese de o extraviado carnet de Madame ter sido, nada mais nada menos, que ROUBADO! por um espantalho qualquer...

Ó malhão, malhão,
que vida é a tua?
Ó malhão, malhão,
que vida é a tua?
Comer e beber, ó terrim, tim, tim,
passear na rua.
Comer e beber, ó terrim, tim, tim,
passear na rua.
Ó malhão, malhão,
ó malhão d'aqui,
Ó malhão, malhão,
ó malhão d'aqui,
se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,
se fugi, fugi.
se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,
se fugi, fugi.
Ó malhão, malhão,
ó malhão vai ver,
Ó malhão, malhão,
ó malhão vai ver,
as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,
ai, onde vão ter.
as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,
ai, onde vão ter.
Nuno Gomes - Eram eles, não eram? Bem desconfiei, mas não tive coragem de lhes pedir um autógrafo. O meu filho bem me pediu para eu andar prevenido mas, sinceramente, tinha deixado o carnet no cacifo, na luz.
Simão Sabrosa - Eu tirei-os logo pela pinta! Principalmente uma senhora com ar majestoso que se ria muito. Eu até pensei: que bem lhe ficaria uma capelina verde! Estavam bem divertidos. Nós também nos divertimos, mas o pior é que não podemos comer pataniscas nem entrecosto quando queremos.
Aniceto Mamporras - Eu assustei-me quando vi a pistola da Lara Croft em cima da mesa; devia estar muito distraída. Denunciou-os. Há muito tempo que não me divertia tanto.
Joaquim Beiga - Ah! O Sindroma! Não, não era que falasse alto, eu topei-o foi pelo cabelo e eu que pensava que ele era loiro! Até reparei numa coisa que se calha ninguém sabe, mas ele vê mesmo mal, não vê?
Este é o meu contributo.




Toda a representação ia sendo pontuada pela voz de uma senhora que subiu para uma cadeira, como aliás tem feito todos os anos, apesar de estar reformada. (É que, como se percebe, não há maneira de a reformarem das teatradas natalícias). E a senhora lá ordenava aos actores que se distanciassem das personagens para fazer discursos que nada tinham que ver com estas. Era o toque brechtiano que faltava. Brecht puro!
Tudo começou com a sensacional entrada em palco de um mercador àrabe de tapetes, com a barba por fazer - o mercador é que tinha a barba por fazer, não os tapetes -, o qual se reconhecia imediatamente pelo facto de trazer à cabeça um tapete: tal personagem - o mercador, não o tapete - era brilhantemente interpretado pelo Chefe Lucas, numa representação verdadeiramente inexcedível (sobretudo na parte da barba por fazer).
Eis senão quando surge um professor de Educação Física pela mão de um professor de Filosofia, ambos enfiados nuns trapos estranhíssimos, simbolizando, obviamente, o primeiro actor, um aluno com dificuldades diversas e comportamentos desadequados; e o outro, um professor em sérias dificuldades por causa do aluno com dificuldades sérias.
O menino, por alguma razão que o drama, enigmática e deliberadamente, mantém na obscuridade, não aprovava que o vendedor de tapetes estivesse enganando a pobre senhora loira e, por isso, mandou chamar o seu gang, constituído por dois mariolas com umas toucas de lã e cujo grito de guerra era «Meeeeh Meeeeh!»
Até ao professor de Filosofia se ordenou que falasse grego (numa clara alusão ao facto de, para os estudantes, os professores estarem sempre «a falar grego»), o que ele cumpriu conscienciosamente, repetindo: «Rabanadas, rabanadas!»
Reparem: O mercador, repentinamente, tornava-se Presidente do CE e, nessa qualidade, dizia umas coisas ao público que já não cabia em si de riso (porque, onde haja inovação, já se sabe, há sempre uns papalvos e uns ignorantes cujo papel é gozar!).
E, para que conste, até milagres se operaram neste almoço de Natal. Juro que me passou pelas mãos uma garrafa cujo rótulo prometia «Branco» e que tinha, lá dentro, vinho tinto! Não, não era eu que já estava com os copos. Aconteceu. Há testemunhas!